ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 083: Patrimônios culturais e meio ambiente: pensando a proteção de modos de vida e territórios de povos e comunidades tradicionais
Resistir ao longo do Jequitinhonha e em torno do Itambé: territorialidades quilombolas e a luta contra a mineração de ferro no Serro/MG:
As comunidades quilombolas do Serro/MG estão organizadas em um movimento contra a implantação da mineração de ferro no município, enfrentando empresas que tentam impor processos de licenciamento ambiental marcados por irregularidades e violação de direitos étnico-territoriais. O Serro como território livre de mineração é o mote da resistência, em defesa de seu patrimônio histórico-cultural, suas riquezas naturais e culturais, os territórios e modos de vida de suas seis comunidades quilombolas certificadas e outras em processos de certificação. Através da pesquisa de doutoramento em curso, estamos realizando uma etnografia desde o ano de 2019, sendo um dos objetivos compreender e analisar a luta das comunidades quilombolas do Serro/MG, através do estudo das territorialidades quilombolas. O trabalho de campo foi realizado em seis comunidades certificadas pela Fundação Palmares e em uma comunidade em processo de debate sobre sua certificação. A partir das vivências e diálogos, procuramos entender as relações emaranhadas entre pessoas, as águas, o cerrado, a mata, os campos rupestres, dinâmicas de trabalho, manifestações culturais e os valores que sustentam crenças, saberes e fazeres. Compreendemos que essas relações podem ser profundamente atingidas pela chegada dos empreendimentos de mineração de ferro. Para as comunidades quilombolas do Serro, o Rio Jequitinhonha e o Pico do Itambé, que estão ameaçados por projetos minerários, são referências não-humanas de afeto e sentido do sagrado, paz e beleza, presenças entrelaçadas à vida e história de sobrevivência, liberdade, resistência e produção da vida. Outro exemplo é a produção do artesanato feito com taquara na comunidade de Queimadas, que tradicionalmente é confeccionado a partir da coleta da taquara em áreas livres de mata ou em terrenos cujos proprietários permitiam a retirada por laços de solidariedade ou parentesco. Essa prática já vem sendo afetada pela especulação fundiária no entorno, em função da mineração, e aquisição de terras por fazendeiros que não permitem o acesso para retirada da taquara. Em relação à agricultura familiar e produção do queijo minas artesanal do Serro, moradores relatam que essas atividades têm sido atingidas por causa da diminuição de água, em função da abertura ilegal de uma estrada por parte da mineradora Herculano, em área onde existem nascentes importantes para a comunidade. O estudo das territorialidades tem revelado um complexo sistema do lugar”, baseado na riqueza ambiental e cultural dos modos de vida de comunidades tradicionais do Serro e apontam os limites das classificações fragmentadas e arbitrárias dos processos de licenciamento ambiental para abarcar a proteção desses modos de vida.