Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 043: Desenvolvimento e conflitos socioambientais: práticas de apropriação territorial e alternativas transformadoras
A retomada do Programa Nuclear Brasileiro e o repertório do confronto antinuclear
Publicado em 2020, o Plano Nacional de Energia 2050 (PNE 2050) indica ampliar até 10 GW de energia nuclear na matriz elétrica brasileira em um horizonte de 30 anos, o que significaria construir oito novas usinas nucleares, para além das duas já existentes e de uma terceira em construção, e expandir toda a cadeia produtiva do nuclear. Há perspectivas de construção de uma quarta usina no Rio de Janeiro, de até seis usinas no sertão de Pernambuco, como também já foram indicados outros sítios no Nordeste (Alagoas e Sergipe) e no Sudeste (Minas Gerais). Efetivamente, formas de cooperação entre o Estado e a iniciativa privada têm alinhavado o nuclear como a energia do futuro, que poderá contribuir na redução de emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE) e na resiliência e robustez do sistema elétrico na transição energética - como indica o PNE 2050. O anseio por um futuro nuclear, verde, limpo e sustentável, tem retroalimentado o sonho do progresso e da prosperidade, já tão conhecido no campo do desenvolvimento. O que me provoca etnograficamente, além da estranheza no significado desse futuro, é de como o nuclear tem deslanchado no albergue de um momento paradigmático para discussões, entre as quais ecológicas, e negociações geopolíticas em torno de uma transição energética mundial. Me interessa, portanto, problematizar a retomada do programa nuclear brasileiro a partir das dinâmicas sociopolíticas de sua produção e apropriação simbólica por agentes situados. Na busca por desvelar esse processo político, proponho apresentar o itinerário da retomada do nuclear, como também o itinerário de conflitos nos ambientes sob intervenção dos projetos de infraestrutura deste. O repertório do confronto antinuclear, em contrapartida, tem acirrado a compreensão dos efeitos socioambientais de uma energia nuclear verde, limpa e sustentável, além de possibilitar a exposição do contraditório e visibilizar como agentes locais sugerem futuros alternativos possíveis. Entendo que a opção pelo nuclear tem implicações nos padrões sociais, nas relações ambientais e políticas e, de forma incontornável, na vida das pessoas, dessa maneira, o debate sobre o futuro energético não deve ser encarado de maneira abstrata ou deslocado das realidades locais no agora. Com este trabalho, quero tensionar o debate sobre os processos contemporâneos de escolhas energéticas e de como, em meio a esses processos, é possível ou não pensar alternativas transformadoras.