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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 079: O visível e o in(di)visível: ciências, conhecimentos e produções de mundos.
Estéticas das evidências terraplanistas: mímese da ciência em um ecossistema digital
Com a emergência de um ecossistema digital e de públicos terraplanistas no Brasil e no mundo em meados da década de 2010, uma série de artefatos audiovisuais de intenção e potencial persuasivo em circulação em plataformas digitais foi alçada por esse coletivos (integrados por pessoas que, em sua imensa maioria, não tinham formação ou atuação na ciência oficial) à posição de evidências incontestáveis da veracidade de uma Terra de formato plano. Esses vídeos são construídos, em linhas gerais, em torno de preocupações relativas à promoção de uma chamada ciência de verdade (mimetizando e distorcendo retóricas e práticas da ciência oficial), à demonstração da existência de uma suposta cosmologia bíblica terraplanista (apoiada em interpretações literais das escrituras cristãs) e/ou ao desvelamento de indícios de forças conspiratórias atuando em escala global. Neste trabalho, parto do caso de vídeos terraplanistas de testes de curvatura para direcionar o olhar àquilo que estes youtubers produziram sob o rótulo de ciência de verdade, analisando como suas formas de valorizar o experimental (associadas a certas demandas por acesso direto e não mediado à verdade) materializam-se em fabricações estéticas com efeitos de consolidação de um modelo cosmológico incompatível com uma longa cadeia de fatos estabilizados pela ciência. Busco também descrever as condições de apartação do terraplanismo em relação a redes tecnocientíficas, apontando alguns elementos para pensar como a emergência da defesa da Terra Plana enquanto fenômeno de plataformas digitais formou um circuito próprio de produção e verificação de fatos suficientemente eficaz para a reconstrução de mundo de seus adeptos.