Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 079: O visível e o in(di)visível: ciências, conhecimentos e produções de mundos.
O fracasso da ciência na reparação socioambiental de um crime/desastre sem precedentes na bacia do
Paraopeba - MG
Uma amostra de água subterrânea, realizada num poço artesiano às margens do rio Paraopeba, atingido por
um crime/desastre cometido pela Vale S.A., aponta uma certa quantidade de uma determinada "substância
química de interesse". Tal quantificação, acima dos parâmetros legais, gera um "cálculo de risco" que indica
que a utilização daquela água pode aumentar as chances de se desenvolver doenças de pele. A princípio, a
população ribeirinha, que utiliza tal água para o banho, dentre outras atividades, se sente assistida, visto
que os problemas de pele ganharam proporções inéditas após o crime/desastre. Contudo, numa reunião
devolutiva, o coordenador técnico do projeto em questão afirma à população que esses estudos apenas avaliam
"riscos e probabilidades", mas não são capazes de estabelecer "nexo de causa" entre a presença da substância
identificada (e o risco a ela atribuído) e o adoecimento factual da população, o que só seria possível com a
realização de outros tipos de estudo. Está instaurado o conflito. Tal relato, baseado em fatos reais, é
fruto do meu trabalho atual como auditor do Ministério Público de Minas Gerais no processo de reparação após
o crime/desastre cometido pela Vale S.A. em Brumadinho, mais especificamente nos Estudos de Avaliação de
Risco à Saúde Humana. Com este trabalho, busco: a) debater as elaborações e disputas em torno do conceito de
"risco"; b) compreender as fragilidades e incertezas que embasam a "ciência do risco", em especial no que se
refere ao risco à saúde humana em razão do contato com contaminantes químicos; c) debater as elaborações e
disputas em torno do conceito de "reparação socioambiental".
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