Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 101: Trabalhos etnográficos com população em situação de rua: modos de existir/resistir, políticas, governos e agências
"Tudo é temporário": modos de habitar, permanecer e circular nas ruas de Volta Redonda/RJ
Viver na rua representa ocupar espaços públicos que também refletem um tipo de sociabilidade, como
compartilhar um beco, uma praça, um viaduto, partilhar roupas, alimentos, bebidas. A rua é atravessada por
mobilidades, atividades e sujeitos, todos em movimento e participando de complexas redes de relações. O
objetivo deste trabalho é discutir as dinâmicas de circulação e permanência dos sujeitos em situação de rua
nas periferias da cidade, assumindo as Comunidades Terapêuticas como alternativa de moradias temporárias. A
presença das CTs reflete um tipo de sociabilidade muito específica que, de determinadas formas, tem a ver
com o sentido de casa, família e acolhimento, mas que são, ao mesmo tempo, atravessadas por uma
temporalidade específicas de espaços como estes, temporários e com um conjunto de regras. Trago como ponto
central a CT localizada em um bairro periférico de Volta Redonda para pensarmos sobre as dinâmicas de
circulação e as múltiplas possibilidades de habitação, circulação e permanência em contextos de
precariedade. O presente trabalho é fruto de uma pesquisa qualitativa que venho desenvolvendo a partir da
cidade de Volta Redonda em diferentes fases. Num primeiro momento, acompanho e traço diálogos com
assistentes sociais do Centro Pop, com o objetivo de entender a complexidade do fenômeno da situação de rua
naquele território. Em um segundo momento, acompanho, tanto presencial quanto virtualmente, a rede de
doações de comida que circulam pela cidade distribuindo alimentos, água e roupas para, então, chegar a
sujeitos específicos que vivenciam as ruas, e que, de determinada forma, se tornaram meus interlocutores por
um breve período. Este é um trabalho composto a partir de diálogos com os principais interlocutores
integrantes de uma CT na cidade: Dona Ana e Márcio. Volta Redonda atrai um número considerável de grupos de
pessoas em situação de vulnerabilidade e/ou em situação de rua, com objetivos de, principalmente, ganhar a
vida. Ao mesmo tempo, a situação de rua é alvo de políticas e ações de instituições públicas, religiosas e
de grupos de voluntários, que visam amenizar a situação de vulnerabilidade de tais sujeitos. Vale ressaltar
que a cidade propõe a integração entre medidas assistenciais e os dispositivos de interceptação, controle e
limpeza dos espaços públicos e, também por isso, há uma extensa rede voltada para o cuidado com estes
sujeitos. Neste imbricamento, encontro a atuação das CTs, que se apresentam como instituições temporárias de
acolhimento e apresento reflexões sobre o cotidiano fragmentado de sujeitos que vivenciam o espaço das ruas
entre a circulação e o confinamento, reconfiguram as noções de casa e evidenciam o descompasso e a
fragilidade das instituições e produzem vida a partir da ausência.