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Trabalho para Mesa Redonda
MR 02: A Antropologia e a Década Internacional das Línguas Indígenas
A Antropologia e a Década Internacional das Línguas Indígenas: questões de ontologia e linguagem
A Década Internacional das Línguas Indígenas (DILI), instituída pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2019, tem como objetivo promover ações contínuas e efetivas para o reconhecimento, valorização e manutenção das línguas indígenas no mundo. No Brasil, o grupo de trabalho nacional da DILI vem realizando um levantamento das ações de fortalecimento, revitalização e retomadas linguísticas no país, podendo essas ações serem vistas como estando em continuidade com o Inventário Nacional da Diversidade Linguística que, desde 2010, esteve a cargo do IPHAN e buscou coletar informações abrangentes sobre todas as línguas do Brasil para identificar a situação atual de cada uma delas para subsidiar políticas públicas favoráveis ao patrimônio linguístico. De modo relevante, as ações do GT da DILI vêm sendo marcadas pelo protagonismo de linguistas indígenas e de lideranças de diferentes povos para a elaboração de políticas linguísticas locais, regionais e nacionais, além a afirmação da necessidade de valorização das concepções sobre língua e comunicação de cada povo, não sendo possível mais somente a imposição de conceitos e entendimentos sobre língua e linguagem de áreas acadêmicas como a Linguística e a Antropologia. Os processos atuais e participativos de registro, fortalecimento, retomada/revitalização linguística e de artes verbais vêm impondo a necessidade de recolocar a questão sobre o que é uma língua e sobre quais as naturezas da linguagem. Se para a Linguística o conceito de língua envolve as formas de comunicação entre pessoas humanas, vivas e pertencentes a comunidades de fala, para a maior parte dos povos indígenas as teorias da linguagem envolvem pensar também a comunicação com espíritos, encantados, antepassados, plantas e animais. A convergência dessas perspectivas diversas sobre a linguagem gera impasses e sérias questões para valorização da diversidade linguística. Tomando como ponto de partida a proposta do GT nacional da Década Internacional das Línguas Indígenas, o presente trabalho busca demonstrar a importância da etnografia da fala/ comunicação e da abordagem ontológica nos estudos sobre linguagem para uma entendimento do multinaturalismo e das dimensões cosmopolíticas envolvidas em processos de registro, retomada/revitalização linguísticas e documentação/fortalecimento de artes verbais indígenas.