Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 016: Antropologia dos Povos Tradicionais Costeiros: Práticas Sociais, Disputas Identitárias e Conflitos
Mulheres da Vila de Jubim tecendo redes de pesca e redes sociais: manutenção de sociobiodiversidade, garantia de ambiente sadio e organização coletiva no maretório de Jubim (Salvaterra, Marajó / PA)
O trabalho que propomos é uma pesquisa de pós-doutorado em andamento, que compõe o projeto selecionado no edital “Iniciativa Amazonia +10”, desenvolvido em parceria pela UFPR, UFPA e Unifesp, denominado “Maretórios amazônicos: ameaças aos espaços de produção de sociobiodiversidade e garantia de mundos de vida da comunidade tradicional de pesca de Jubim, Arquipélago do Marajó – Salvaterra/PA)”. Na pesquisa que desenvolvemos, utilizamos lentes de gênero para observar e analisar relações que constituem um território de interface mar e terra (maretório), destacando a atuação das mulheres da Vila de Jubim na forma como constituem relações socioprodutivas, considerando a utilização de recursos costeiros e o envolvimento em redes e organizações coletivas que se fazem presente em seus cotidianos. Em Jubim, distrito do município de Salvaterra (Marajó/PA) a atividade pesqueira artesanal tem especial relevância para a soberania alimentar local, composta de uma grande diversidade de recursos pesqueiros, frutos e tubérculos. Dentre as atividades produtivas praticadas pelas mulheres da comunidade, pode-se destacar a pesca na beira de rios e igarapés, capturando espécies como pratiqueira, arraia, pitú, camarão, siri, o trabalho no mangal, tirando caranguejo e turu, nas roças de mandioca, produzindo farinha, nos açaizais nativos e na coleta de diversas outras plantas e frutas locais, que compõem a dieta da comunidade onde “só passa fome quem é preguiçoso”. Além da alimentação, o uso medicinal é revelado em receitas que compartilham para a cura de diversas doenças. Essa coleção de saberes ouvidos nas conversas com mulheres em Jubim revela a vivência num continuum mar e terra, permeado por relações de pertencimento e cuidado com a comunidade. Para a falta de interesse governamental na comunidade, assumem como estratégia a organização coletiva, evidenciando o protagonismo das mulheres na defesa dos territórios, referenciado na literatura e no discurso e prática de quem vive o território marajoara. Como resultados preliminares, destacamos os usos dos recursos costeiros, sobretudo na relação com a pesca, tanto na captura quanto nas atividades de pré e pós captura, tais como os trabalhos de confecção de redes e comercialização local dos recursos pesqueiros, e o surgimento do “bloco das patroas”, organização coletiva informal, pensado inicialmente como espaço de socialização e diversão para o carnaval em um grupo exclusivo de mulheres, mas que expande suas ações com atividades em benefício da comunidade.