Trabalho para Mesa Redonda
MR 53: O FAZER ANTROPOLÓGICO NUMA SOCIEDADE DAS IMAGENS: perspectivas críticas e desafios teóricos e metodológicos aos cânones clássicos
ACERVOS ETNO-FOTOGRÁFICOS E PESQUISA ANTROPOLÓGICA: Representações imagéticas sobre povos indígenas em Curt Nimuendajú e William Crocker
O objetivo desta comunicação é analisar o trabalho etnográfico e imagético dos antropólogos Curt Nimuendaju e William Crocker, com ênfase nas respectivas produções fotográficas sobre os povos originários Apãnyekrá e Ramkokamekra-Canela, localizados no centro-sul do Maranhão. Parte-se de questões teóricas que relacionam a antropologia visual com a memória social (KOSSOY 2001 e 2002, HALBWACHS 2004), confrontadas a dados etnográficos contidos em textos e fotografias de Nimuendajú, e Crocker. Expoentes da Etnologia sobre os povos Jê, Nimuendaju e Crocker constituem paradigmas da pesquisa antropológica no Brasil. Autodidata, o alemão Curt Unkel chega Brasil no início do século XX e desloca-se para interior de São Paulo, iniciando junto aos Guarani sua trajetória de etnógrafo e colecionador, que se estende de 1905 a 1912. Em 1913 se transfere para Belém (PA), onde desenvolve, até 1944, seu projeto etnográfico junto povos do Cerrado e da Amazônia. De formação acadêmica, curador e pesquisador vinculado ao Museu Nacional de História Natural do Smithsonian Institution (EUA), William Crocker inicia suas pesquisas com os Canelas em 1957, que se estendem, sem interrupção, até a década de 1970 e de modo intermitente, até 2011. A produção imagética – fotográfica e fílmica – realizada por Nimuendaju e Crocker revela temáticas sobre a diversidade cultural e a dinâmica histórica dos Jê Setentrionais, especialmente dos Apãnyekrá e Ramkokamekra-Canela e suas relações junto às agências tutelares (SPI e FUNAI) e à sociedade regional. O acervo de Curt Nimuendaju refere-se a um conjunto formado por 70 fotografias sobre os Canelas geradas no período de 1928 a 1935, formando parte da Coleção Carlos Estevão de Oliveira, localizada no Museu do Estado de Pernambuco. Essas imagens resultam de viagens etnográficas realizadas junto aos Canela e outros povos Jê-Timbira - Apinayé, Krahô, Krikatí, Pukobyê, Krepumkateyê. Decorrente da relação profissional entre Nimuendaju e o advogado pernambucano Carlos Estevão de Oliveira, que exerceu o cargo de Diretor do Museu Paraense Emílio Goeldi - evidenciada nas Cartas do Sertão (NIMUENDAJU 2000), em correspondências junto a etnólogos e representantes de museus no Brasil, EUA e Europa - este acervo foi parcialmente reproduzido em algumas monografias (NIMUENDAJU, 1939, 1942, 1946). A produção fotográfica e fílmica de William Crocker junto aos Canela, encontra-se no Smithsonian Institution (EUA), cujo acervo está parcialmente reproduzido em seus livros (CROCKER 1990, 2004, 2009 e outros), e de outros pesquisadores (IUVARO 2017). Esta comunicação aborda esse conjunto foto-etnográfico a partir de pesquisa antropológica sobre memória e imagem fotográfica junto aos Canela, presente nas obras de Crocker e Nimuendaju e de outros pesquisadores.