Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 044: Dialéticas da plantations e da contraplantation: expropriação, recusa e fuga
Políticas da terra: multiplicidade contra a monocultura
Políticas da terra: multiplicidade contra a monocultura
Essa comunicação é fruto de um diálogo em torno da noção de terra e da política que ela funda junto a povos indígenas, quilombolas e povos e comunidades tradicionais. A partir da experiência das autoras, com diferentes povos, propomos uma reflexão inicial sobre os efeitos que as ações políticas e os modos de existência desses coletivos, enraizados na terra, podem ter sobre as imagens usuais da política.
Terra é entendida aqui como um significante potente e polissêmico, catalisador de lutas, alianças e propostas de transformação. Viver com a terra, constituindo-se a partir de uma multiplicidade de relações com outros em um território criado a partir dessas relações, é o que determina a existência de uma série de coletivos que designamos por povos da terra. Estamos falando de uma gente que fica agarrada na terra, nas palavras de Ailton Krenak (2019: 22); que encara a terra como força vital que integra todas as coisas, como escreve Antonio Bispo (2015: 41); que se entende como a extensão do corpo da terra, na definição de Célia Xakriabá (2020). Para estes coletivos, os modos de produzir alimentos, criar filhos, cuidar de parentes, habitar e viver são inseparáveis das relações com os co-habitantes de seus territórios: animais, vegetais, outros povos, espíritos. É a atualização das relações com esses sujeitos que anima e dá origem à T/terra. É a atualização das relações com esses sujeitos que anima a terra, fazendo dela algo entre a ordem do acontecimento e do ser, ou do evento e do sujeito. É entre a dimensão imanente da terra e os modos jurisdificados por meios dos quais a Terra ganha espaço na política, que essa reflexão procura ocupar um espaço.
Quais as implicações conceituais dessa política (com todos os seus adjetivos) feita com e junto à terra, caracterizada pela multiplicidade, pelos vínculos vitais entre humanidade e mundo, entre corpo e território? Quais os modos como as políticas da terra conseguem interromper os efeitos dos cercamentos (das despossessões) que dão continuamente origem à separação entre terras e corpos, definidora dos modos de produção e subjetivação capitalista?
Estamos interessadas, de um lado, em pensar os efeitos daquilo que se pode chamar de novos ciclos da plantation no Brasil, evidenciados nas políticas de transição energética e no enquadramento das territorialidades originárias nos ideários da "governança" e "regularização fundiária". De outro, interessa-nos como a conjugação terra, vida e luta - uma verdadeira política da T/terra - ganha novos contornos e nos impulsiona a reimaginar a política.