ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 017: Antropologia dos Resíduos
Nobres resíduos
Embora o termo resíduo seja constantemente associado a significados como descarte, restos, ruínas e lixo, alguns destes resquícios desafiam essa lógica ganhando nobre relevância. O par residual composto por serragem de pau-brasil oriunda do feitio de arcos de violino e seda feita com casulos descartados pela indústria convencional encontra-se nessa chave. Juntos eles compõem um vestido de alto custo feito por uma marca de moda têxtil reconhecida como sustentável que com uma gama de parceiros faz o que nomeia como "roupa viva". O encontro da marca com o vermelho do pau-brasil veio da pesquisa de uma das tintureiras naturais que lá atuou e que muito conhecia sobre música. Em suas investigações ela encontrou nos resíduos do feitio dos arcos essa possibilidade, que depois é negociada e se transforma em parceria. Na etnografia que realizei pude conhecer mais sobre o feitio dessa roupa e de algumas de suas parcerias, observando como resíduos tornam-se elementos vitais para essa moda, o que permite pensar reconfigurações sobre o modo como estes são entendidos, utilizados, disputados e desejados dentro desse circuito. Pessoas, florestas, espécies em extinção (como o pau-brasil), música, amoreiras, bichos-da-seda, tecidos e roupas estão envolvidas nestes entrelaçamentos. Nele diversas relações entre humanos e não humanos estão intrincadas, guardando nexos com paisagens atuais, onde alguns objetos de valor circulam como joias, a partir das e por entre contextos indelevelmente marcados por ruínas geradas pela época atual. Tal debate nos remete à etnografia e às análises da antropóloga Anna Tsing, nas quais os desejados cogumelos matsutake, oriundos de florestas arruinadas, circulam como joias no Japão. Neste sentido proponho pensar os resíduos a partir do campo que conheci e de debates que com ele se co-relacionam. Palavras-chave: Resíduos, Moda, Sustentabilidade