Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 010: Antropologia da percepção e dos sentidos
Sonoridades Sísmicas: Transduções Táteis na Escuta dos Ecos da Mineração na Arte e Cultura.
A atividade mineradora – uma das mais importantes para a economia brasileira, ao mesmo tempo que é responsável por uma série de crimes ambientais recentes no país – é marcada pela proliferação daquilo que este trabalho denomina sonoridades sísmicas: sons de caráter subgrave, intenso e tátil, cuja transmissão e propagação pelo solo remete às atividades subterrâneas e as permite alcançar longas distâncias. Desde a ação rítmica das escavações do solo nas minas e das sirenes das fábricas de beneficiamento de minérios para ordenar o tempo de trabalho; às engrenagens das esteiras, ao fluir da água em minerodutos, e aos apitos de navios nos quais o produto extraído é transportado; estas sonoridades do processo produtivo da mineração ecoam nas cidades que se organizam a partir desta cadeia econômica. Paralelo a isso, empresas do setor são responsáveis por alguns dos crimes ambientais de maior impacto no país – como a Vale, em Minas Gerais, e no seu complexo portuário em Vitória, ou a Braskem em Maceió, Alagoas – e trabalham para impedir a escuta pela sociedade das sonoridades sísmicas, da destruição, que provocam por meio de ações de marketing cultural. Estes sons sísmicos são percebidos tanto por um registro perceptível tátil, quanto detectados, quantificados, analisados e estetizados por processos transdutórios – aqueles que buscam transformar energia, informação, dados, sentidos e sensorialidades a fim de repassá-los de um meio a outro (Sterne, 2003; Helmreich, 2007) – presentes em sensores de monitoramento da atividade mineradora e em obras de arte financiadas por estas mesmas empresas, como a instalação Sonic Pavillion, do artista multimídia Doug Aitken localizada no Museu Inhotim, em Brumadinho. Este trabalho busca escutar as sonoridades sísmicas da atividade mineradora a fim de esboçar uma acustemologia (Feld, 2018) deste setor econômico que, por um lado, produz e emprega tais sons em toda sua cadeia e processos produtivos, e que, por outro, busca limpar sua imagem de poluidor e destruidor do ambiente por meio de ações de fomento artístico e cultural. Uma hipótese que se delineia é que estas sonoridades sísmicas são moduladas por tal setor econômico a fim de seduzir as populações dos locais onde atua e convencê-las da inevitabilidade da destruição que provocam, face aos benefícios que supostamente produzem.