ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 046: Educação diferenciada e territorialidades: fazeres, conflitos e resistências
A produção acadêmica sobre educação diferenciada em comunidades tradicionais
Este trabalho objetiva debater sobre os significados da educação diferenciada entre comunidades tradicionais a partir de uma análise sobre a produção acadêmica disponível sobre a temática. No debate sobre uma possível demarcação conceitual de educação diferenciada, ou currículo diferenciado, partimos da hipótese de que ela não se configura como um objeto em si mesmo, sobre a qual se possa teorizar de forma abstrata, voltando-se a uma linguagem que emerge de situações de conflitos e disputas locais, travadas muitas vezes entre os desejos comunitários para a escolarização, e o currículo universalista, que perpassa documentos como as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica e a Base Nacional Comum Curricular. No intuito de verificarmos tal argumento, fomos à bibliografia disponível sobre o tema, por meio da coleta de referências na plataforma Scielo, utilizando as seguintes palavras-chave na busca: educação diferenciada or currículo diferenciado. Encontramos 87 referências, dentre as quais somente 15 abordavam a temática. Foram analisados 11 artigos que tratavam da educação escolar diferenciada indígena, 1 da educação escolar diferenciada caiçara e 3 da educação escolar diferenciada quilombola. Percebemos que a dificuldade de abordar a educação diferenciada como um objeto autônomo está, portanto, no fato de as suas manifestações concretas não resultarem de um projeto comum, mas de reações locais singulares, que variam tanto com relação à configuração e aos projetos políticos (pedagógicos) das comunidades (escolares) de referência, quanto com relação a uma sensibilização dos gestores públicos, em seus diferentes níveis, em incorporarem tais singularidades. As manifestações concretas da educação escolar diferenciada são, por isso, não só variadas, mas efetivamente contraditórias, tendo em comum, principalmente, o fato de resultarem de um conflito de perspectivas, projetos e expectativas. Isso, porém, não elimina a importância do debate acadêmico pautado nas diferentes experiências de educação diferenciada de comunidades/povos tradicionais, à medida que ele pode vir a contribuir com a reflexão sobre as ações pedagógicas realizadas no cotidiano escolar, junto aos desejos comunitários de indígenas, quilombolas, caiçaras, dentre outros. Apesar de o tema estar relacionado a um núcleo de elementos comuns, como os currículos, pedagogias e/ou projetos pedagógicos próprios, que tematizam demandas identitárias, sociais, políticas, culturais, linguísticas e econômicas das comunidades, a educação diferenciada não pode ser considerada um objeto em si mesmo, tendo em vista que representa projetos singulares de educação escolar, que não podem ser deslocados para contextos diferentes daqueles nos quais estão inseridos.