ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 017: Antropologia dos Resíduos
À caminho da intimidade: notas sobre o sacrifício e a dominação nas economias "arcaicas"
Em "O Ensaio sobre a dádiva", obra magistral de Marcel Mauss, o antropólogo, discípulo de Durkheim, finaliza seu texto com considerações esperançosas acerca de uma "retomada do arcaico" que pudesse, recuperando noções das "economias dispendiosas", fizesse frente aos limites do individualismo ocidental que vigorava em sua época. Não obstante, o autor não deixou de salientar certa ressalva, observando que os regimes da dádiva eram "excessivamente dispendiosos" e que, tendo em vista a permanência de valores suntuários ainda entre os ocidentais, como nas "ostentações do homem rico", é de se pensar se "está bem que assim seja". É partindo dessa reticência que pretendo aqui cotejar as considerações das "sociedades do dispêndio" analisadas por Mauss, com o problema da "Duração", tal como elaborado por Georges Bataille em "Teoria da Religião". Ali, como pretendo argumentar, Bataille aponta para uma ânsia presente na maior parte das configurações religiosas em domar aquilo por ele denominado como "intimidade". Analisando cuidadosamente sua fenomenologia, veremos como Bataille vê na economia do sacrifício, típica das sociedades do "potlatch", uma forma de dispêndio que faz frente aos ditames da razão liberal, mas que também não deixa de lançar o homem à posição de objeto, ou mais especificamente, de objeto que "dura", que se fixa e se distingue, ou seja, que nomeia-se enquanto coisa "útil", e doravante nega à si próprio o livre fluxo da intimidade.