Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 089: Quilombos: processos de territorialização, movimentos sociais e conflitos
Quilombo Cruz da Menina: identidade, território e movimentos sociais em Dona Inês/PB
Esta comunicação visa apresentar algumas reflexões produzidas na pesquisa etnográfica iniciada durante a
graduação, e em continuidade no mestrado, que tem analisado a relação entre o território e cultura no
processo da construção étnica quilombola na comunidade Cruz da Menina, Dona Inês/PB, observando as
singularidades do Nordeste e, sobretudo, pensando a territorialização e a territorialidade em relação com a
cultura local. Em campo, observamos a maneira como a territorialidade tornou-se um aspecto importante no
processo de reconhecimento do território, cujas relações familiares desenvolveram um sentimento de pertença
entre os indivíduos e consolidaram a comunidade, com suas histórias, práticas culturais, conflitos e
negociações, reconhecendo as subjetividades e os cenários sociais, políticos e econômicos vivenciados. Os
primeiros moradores chegaram naquelas terras em 1850 e, segundo relatos de seus descendentes, eles
permaneceram naquele espaço devido a exclusão étnica dos moradores dos sítios em que, atualmente, é
localizada a zona urbana da cidade. Na busca por refúgio nas terras inesenses, esses indivíduos
compartilharam suas culturas, valores, saberes e criaram vínculos de parentesco. A comunidade foi formada
por essa relação entre os moradores do quilombo e a forma como se relacionaram com os moradores da cidade,
mas, sobretudo, pelo próprio autorreconhecimento. Esse sentimento de pertença compõem uma parte fundamental
no processo de reivindicação dos moradores que aguardam pela certificação de suas terras. A comunidade foi
reconhecida pela Fundação Cultural Palmares (FCP) como quilombola em 2008, após reivindicação étnica
conduzida por um coletivo de mulheres que, no ano seguinte, fundaram a Associação da Comunidade dos
remanescentes de Quilombo Cruz da Menina, que ainda hoje é majoritariamente formada por mulheres. Portanto,
a pesquisa tem ressaltado a luta e resiliência quilombola a partir das narrativas produzidas durante o
trabalho de campo, do qual o coletivo de mulheres é fundamental para reconhecer a importância das
territorialidades para a construção de uma identidade étnica quilombola naquela região. Ainda investigamos
os sentidos do território para os moradores, o processo de territorialização desde a chegada dos primeiros
moradores e as sociabilidades existentes, relacionando a cultura com o território, seus entrelaces e
tessituras.
Palavras-Chave: Identidade étnica; território; Quilombolas; Paraíba.