ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 098: Som, música e eventos: experimentações etnográficas
O dia em que chorei em campo - notas etnográficas sobre afetos, samba e pentecostalismo
O pretenso comportamento analítico do trabalho antropológico pode se tornar um desafio de metodologia para quem realiza um estudo etnográfico de maneira presencial. Estar em campo requer protocolos que construam a posição do pesquisador nesse ambiente de maneira a estabelecer uma relação de confiança com as pessoas interlocutoras e que deixe evidente o objetivo do trabalho científico em execução. Contudo, estar em campo é também estar suscetível ao inesperado, ao imponderável e aos afetos criados entre as sujeitas e os sujeitos. Nesse sentido, este trabalho se propõe a pensar as implicações metodológicas e éticas de episódios em que este autor, mesmo não sendo adepto de igrejas pentecostais, chorou durante celebrações religiosas de ministérios que realizam louvores em ritmo de samba. A pesquisa de doutorado em curso se baseia na análise de práticas desse gênero musical propostas por duas instituições do campo evangélico e a investigação de como se tratam de estratégias de proselitismo, maior engajamento de integrantes convertidos (grande parte ex-integrantes de grupos de pagode ou escolas de samba) e de disputas sobre uma possível identidade brasileira evangélica. Este autor, como dito, apenas passou a ter contato com essa expressão devocional a partir do início da pesquisa de campo, que se tornou interesse de estudo devido a sua trajetória pessoal no universo do samba e do carnaval (é músico pandeirista e mestre-sala em uma agremiação do interior do Estado de São Paulo) e seu questionamento sobre as disputas identitárias no atual período de transição religiosa no Brasil. Como esse jogo de aproximações e distanciamentos, próprio das relações antropológicas de estudo, ajudam a construir a imagem do sujeito pesquisador em campo? Como lidar com afetos que podem complexificar a relação entre as pessoas em um ambiente de pesquisa? Emocionar-se em campo cria implicações de que tipo para o resultado das investigações? Como relatar esses afetos e compreender as suas causas? O impacto da música seria um sintoma de como pesquisadoras e pesquisadores estão suscetíveis ao imponderável em seus trabalhos de campo? Essas e outras questões, subsidiadas pela bibliografia especializada na relação entre sujeitas e sujeitos de pesquisa e suas implicações metodológicas, irão nortear esta reflexão.