Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 098: Som, música e eventos: experimentações etnográficas
O dia em que chorei em campo - notas etnográficas sobre afetos, samba e pentecostalismo
O pretenso comportamento analítico do trabalho antropológico pode se tornar um desafio de metodologia
para quem realiza um estudo etnográfico de maneira presencial. Estar em campo requer protocolos que
construam a posição do pesquisador nesse ambiente de maneira a estabelecer uma relação de confiança com as
pessoas interlocutoras e que deixe evidente o objetivo do trabalho científico em execução. Contudo, estar em
campo é também estar suscetível ao inesperado, ao imponderável e aos afetos criados entre as sujeitas e os
sujeitos. Nesse sentido, este trabalho se propõe a pensar as implicações metodológicas e éticas de episódios
em que este autor, mesmo não sendo adepto de igrejas pentecostais, chorou durante celebrações religiosas de
ministérios que realizam louvores em ritmo de samba. A pesquisa de doutorado em curso se baseia na análise
de práticas desse gênero musical propostas por duas instituições do campo evangélico e a investigação de
como se tratam de estratégias de proselitismo, maior engajamento de integrantes convertidos (grande parte
ex-integrantes de grupos de pagode ou escolas de samba) e de disputas sobre uma possível identidade
brasileira evangélica. Este autor, como dito, apenas passou a ter contato com essa expressão devocional a
partir do início da pesquisa de campo, que se tornou interesse de estudo devido a sua trajetória pessoal no
universo do samba e do carnaval (é músico pandeirista e mestre-sala em uma agremiação do interior do Estado
de São Paulo) e seu questionamento sobre as disputas identitárias no atual período de transição religiosa no
Brasil. Como esse jogo de aproximações e distanciamentos, próprio das relações antropológicas de estudo,
ajudam a construir a imagem do sujeito pesquisador em campo? Como lidar com afetos que podem complexificar a
relação entre as pessoas em um ambiente de pesquisa? Emocionar-se em campo cria implicações de que tipo para
o resultado das investigações? Como relatar esses afetos e compreender as suas causas? O impacto da música
seria um sintoma de como pesquisadoras e pesquisadores estão suscetíveis ao imponderável em seus trabalhos
de campo? Essas e outras questões, subsidiadas pela bibliografia especializada na relação entre sujeitas e
sujeitos de pesquisa e suas implicações metodológicas, irão nortear esta reflexão.
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