ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 035: Cidades e citadinidades: questões de Antropologia Urbana
As cidades do carnaval de rua
Em minha pesquisa de doutoramento, tenho analisado as dimensões políticas do carnaval de rua contemporâneo, a partir de trabalho de campo realizado nas cidades de Porto Alegre e Rio de Janeiro, com passagem por Lisboa, onde realizei doutorado-sanduíche. Mais especificamente, considero os usos e contra-usos das ruas como parte de um repertório de contestação de vivências urbanas segregadoras, que preconizam interesses privados. O fenômeno carnavalesco em questão, notadamente a partir dos anos 2010, coloca em evidência a ocupação dos espaços públicos, de modo que praças, monumentos, ruas e avenidas são tomadas por multidões em festa e movimento. Na catarse coletiva promovida pelos blocos, os foliões fazem-cidade, contestando a lógica imperativa das cidades-mercadoria e protagonizando processos de reencantamento do mundo. A festa é uma experiência coletiva, pública, e potencialmente insurgente. Neste trabalho, busco compor um quadro analítico sobre como os citadinos-foliões produzem as cidades observadas a partir do carnaval, apreendendo os espaços públicos pela cadência dos tambores, trompetes, xequerês e tamborins. Entendo, assim, que a dança, a música, a alegria e a liberdade dos corpos formam uma combinação poderosa a favor de cidades voltadas para a pluralidade, nas quais a citanidade dos sujeitos é uma possibilidade, entremeada por relações complexas e ambíguas dos blocos de carnaval com o poder público. Minha experiência etnográfica é sobretudo corporal: coloco-me no meio dos milhares de foliões, vivenciando a cidade junto a eles, observando os fluxos e trajetos que vão sendo configurados pelas sociabilidades carnavalescas. Ademais, tenho entrevistado representantes dos blocos que acompanho nas ruas, a fim de aprofundar o entendimento dos vieses que fundamentam as práticas de fazer-cidade dos grupos observados. Este trabalho resulta, portanto, em uma análise situacional das relações entre festa, cidade e política.