Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 053: Estudos Etnográficos sobre Cidadania
"Pele Alvo": O suspeito natural
O presente trabalho é fruto da etnografia realizada durante o meu mestrado, em que a prisão injusta do
músico Luiz Carlos da Costa Justino, jovem negro e violoncelista do projeto social e cultural Orquestra de
Cordas da Grota, foi tomada como ponto de partida para a análise da estrutura social brasileira, onde se
evidenciam as imensas desigualdades, tendo como realidade subjacente o chamado racismo estrutural. Esta
comunicação oral tem como objetivo analisar o processo de incriminação ao qual Justino foi submetido e que o
levou a ser preso no dia 02 de setembro de 2020, por conta de um erro de reconhecimento fotográfico, logo
após ter sofrido uma injustificável abordagem policial no centro de Niterói-RJ. Justino nunca havia tido uma
passagem pela polícia até o fatídico dia de sua prisão arbitrária. Desse modo, como havia uma foto do jovem
no álbum de suspeitos da polícia para que a vítima de um crime pudesse fazer um reconhecimento fotográfico?
Devido à grande mobilização dos membros da Orquestra da Grota junto à mídia e aos movimentos sociais
comprometidos com as pautas dos direitos humanos e antirracista e a rápida articulação com advogados membros
da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, a prisão de Justino foi alçada a um caso de repercussão (KANT DE
LIMA; EILBAUM; MEDEIROS, 2017), sendo noticiada e acompanhada por todo o espectro da mídia, o que foi
determinante para que o jovem obtivesse no dia 06 de setembro de 2020 um Alvará de Soltura. Porém, apesar de
ter sua prisão revogada, Luiz Justino teve de ficar em prisão domiciliar até o dia da Audiência de Instrução
e Julgamento, ocorrida no dia 09 de junho de 2021, quando finalmente foi absolvido do processo criminal a
que teve de responder. Tendo como recorte a lógica da mediação que rege as relações sociais e mesmo
institucionais na sociedade brasileira, distinguindo indivíduo de pessoa (DAMATTA, 1979) e assim
estabelecendo quem é ou não digno de consideração, reconhecimento e direitos (CARDOSO DE OLIVEIRA, 2011), a
apresentação pretende revisitar algumas das questões desenvolvidas na dissertação Orquestra de Cordas da
Grota: mundos da arte e seus dramas sociais, em que a prisão do violoncelista foi tomada como objeto de
análise para discutir as diferentes fases do drama social (TURNER, 2008) vivido pelo músico e o racismo
estrutural subjacente à nossa sociedade e toda a violência que dele decorre.
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