Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 033: Cartas, cartografias, confabulações e outras correspondências antropoéticas
Entre espinhas e discursos: reflexões a partir de um laboratório fílmico imersivo
O presente trabalho nasceu da parceria entre uma antropóloga e uma cineasta. Juntas, desenvolvemos um laboratório imersivo para a realizar um filme como Trabalho de Conclusão de Curso que buscou levantar reflexões sobre verdade, veracidade e legitimação atrelados ao território. O artigo desenvolvido, está dividido em: I. Relato do Laboratório; II. Discussão metodológica sobre a disciplina; III. O conceito de verdade através da linguagem de documentário e a invenção como potencialidade metodológica.
Em Setembro de 2023 partimos para o desafio de criar um roteiro em 20 dias. Os interlocutores já eram conhecidos por conta do projeto Orla sem Lixo da UFRJ que participamos, assim como a câmera por ser usada para fotografar eventos do projeto.
Com a proposta de um laboratório imersivo, partimos da ideia de coletar histórias de pescadores que zarpam da Ilha do Fundão e legitimar essas histórias com saberes acadêmicos (inventados ou não). Assim, a primeira etapa do laboratório foi o trabalho de campo se amparando na observação flutuante de (PÉTONNET, 2008) e com a escuta ativa (INGOLD, 2010).
Após coletadas as histórias, entrevistamos professores acadêmicos das áreas que as histórias abordaram. A terceira etapa, posterior ao laboratório, trata de filmar atores encenando professores acadêmicos, onde o texto será escrito por nós.
A primeira reflexão, uma discussão metodológica, aborda a origem do fazer antropológico. Com Cardoso de Oliveira, refletimos sobre a relação entre o saber tradicional dos nativos e o saber acadêmico, parte do processo de escrita. Fazendo um paralelo com o Encontro de Saberes (CARVALHO, 2020) problematizamos a legitimação do conhecimento como unicamente acadêmica. Partindo de uma responsabilidade com o território em que pesquisamos (LIBOIRON, 2021), nos debruçamos na história da Ilha do Fundão (aterramento de territórios pesqueiros, remoções, ocupações) para interpretar a ilha como um território em disputa. Somado a discussão metodológica com Geertz, Wagner, discutimos os conflitos entre trabalho de campo e veracidade.
A segunda reflexão, aborda a relação entre verdade e ficção no documentário. Surge assim o mocumentário, gênero que discute a verdade pelo seu próprio formato, onde é usado a linguagem do documentário, mas sem haver compromisso com a verdade. Segundo Miranda Campbell (2007) , o mocumentário traça uma linha fina entre fato e ficção.
Por fim, entendemos a experiência do laboratório como algo atrelado ao encontro (BONDÍA, 2002) e após questionar a verdade, propomos o uso da experimentação como ferramenta metodológica. Assumimos os riscos (ALVES, 2018) das relações entre diferentes (entre cinema e antropologia, pesquisadoras e interlocutores) e defendemos a potência desses encontros geradores de roteiros e pesquisas.