ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 009: Antropologia da Economia
O que está em jogo quando raça é estratégia de negócio? Desenhando uma pesquisa a partir de uma agência criativa.
Este trabalho tem como objetivo analisar a trajetória de jovens negros e/ou periféricos que foram beneficiários de políticas de ação afirmativa e, hoje, são sócios majoritários de uma agência criativa que nasceu na favela do Jacaré, no Rio de Janeiro, e promovia concursos de beleza que tinham como intuito transformar a cara da moda nacional em termos raciais, embora não somente. É também objetivo deste trabalho descrever a própria trajetória desse negócio, com foco nas condições de possibilidade de sua emergência e continuidade. A agência em questão, após se reposicionar no mercado criativo, deixando de ser apenas uma produtora de casting, passou a realizar parcerias comerciais com grandes marcas, muitas delas globais com forte atuação no mercado "Latam". Para essas parcerias, jovens negros de periferias urbanas espalhadas pelo Brasil são contratados como PJ porque, segundo os sócios, apesar do negócio ter faturado mais de 3,5 milhões em 2021, os custos associados à CLT ainda não fazem parte da realidade da agência. A busca pela descentralização das atividades é vista, internamente, como uma forma de fazer o dinheiro circular em lugares que não somente o Sudeste, podendo ter gerado transferência de cerca de 2 milhões, também no ano 2021, para mãos não-brancas. Por que grandes marcas querem se associar a esse negócio, sem, no entanto, investir nele as cifras transferidas para agências criativas de grande porte? Como o tamanho dessa agência influencia a circulação de dinheiro? Atualmente, a agência promove, politicamente e comercialmente, discursos sobre o "Brasil real" produzidos pelo "Brasil real", o que se materializa em campanhas de comunicação, estratégias de branding, treinamentos, guias, pesquisas, casting, frameworks etc. Desde 2021, atuo na produção de alguns desses materiais, ora gerindo projetos, ora desenvolvendo pesquisas e estratégias metodológicas, mas sempre como corpo / trajetória imerso em uma teia político-comercial da qual depende o negócio em questão e que em muito o excede. Essa agência atrai companhias que, na última década passaram a investir no que chamam de ESG (Environmental, Social and Governance)? São empresas que contrataram e promoveram jovens negros a cargos de liderança? A continuidade dessa agência criativa depende dessas lideranças? É verdade que diversas marcas estão realizando esforços (estratégias de branding) para mudar não só a forma como se apresentam publicamente no Brasil, mas também o modo como fazem negócios? Por que raça parece ser politicamente e comercialmente interessante para algumas marcas? Em última análise, este trabalho, a partir de um estudo de caso, pretende analisar contemporaneamente a relação entre capitalismo e raça, sem deixar de considerar dinâmicas políticas mais amplas.