ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 090: Religiões afro-ameríndias entre Norte e Nordeste do Brasil: territórios, trânsitos e práticas
Macumba, catolicismo e evangelicalismo na comunidade quilombola do Cumbe, em Aracati/CE
Falar na religiosidade local do Cumbe, implica em entendermos as relações entre macumba, evangelicalismo e catolicismo nessa comunidade quilombola. Há um antagonismo entre essas expressões religiosas, ao mesmo tempo em que há um diálogo, a depender de cada caso. Na pesquisa de campo que realizei entre 2022 e 2023, fiquei sabendo do preconceito que os evangélicos têm contra festas católicas e contra afrorreligiosos. Em algumas ocasiões, ouvi queixas de católicos não-praticantes contra evangélicos, de católicos contra afrorreligiosos e destes sobre evangélicos. Interessante apontar que ouvi relatos de que algumas pessoas que eram da macumba, hoje em dia são evangélicas – e criticam a macumba, bem como católicos/as não-praticantes que se converteram, como se diz no jargão evangélico. Interessante também foi a frequência com que ouvia, estando em campo, de interlocutores/as mais íntimos/as, a palavra macumba’. A primeira vez que ouvi achei interessante, mas julguei como um dado aleatório. No entanto, no decorrer dos dias de dezembro de 2022, fui percebendo em que certas ocasiões e com certas pessoas a palavra macumba’ aparecia nas conversas de forma muito espontânea e o principal para mim, enquanto também pesquisador de religiões de matrizes africanas, era ouvir aquela palavra com a naturalidade que eu só ouço dentro dos terreiros de Candomblé e Umbanda. A palavra macumba’ era sempre evocada sem nenhum sentido pejorativo, sem nenhuma demonização do termo. Nesse sentido, a naturalização do termo macumba’ me apontava algo que só a frequência de ouvi-lo me faria entender: a macumba é constitutiva da memória de vários moradores/as do Cumbe, quase como uma memória coletiva. Eu sempre ouvia algum relato de que fulano e sicrano mexiam ou mexem com macumba, tanto no sentido de exercitar sua religiosidade afro e/ou mediunidade, quanto no sentido dos trabalhos’, dos ritos de caráter mágico. Os/as interlocutores/as mais íntimos sempre citavam os nomes das pessoas ao falar de macumba e às vezes davam detalhes vívidos sobre a antiga macumba no Cumbe. Porém, ao mesmo tempo em que a macumba é afirmada e positivada por algumas pessoas, como falei, essa foi a experiência que tive com os/as interlocutores/as mais íntimos/as, pois há quem negue a sua presença no passado do Cumbe e quem a demonize. Assim, há quem fale bem e com propriedade da macumba e há quem fale mal e com muito distanciamento da mesma. De alguma forma, a macumba subjaz ao catolicismo popular do local, que é permeado de misticismos e entidades não-cristãs.