ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 077: Novas perspectivas antropológicas a partir de África: caminhos para reconfigurações autônomas no contexto sul-sul
Townships, periferias e universidades: uma mirada multissituada sobre os efeitos da expansão do ensino superior em São Paulo e Cape Town.
Esta apresentação traz alguns achados de uma pesquisa de pós-doutorado, ainda em andamento, que se debruça sobre os efeitos da expansão do ensino superior comparando experiências do Brasil e da África do Sul. Através de uma análise multissituada envolvendo trabalho de campo e revisão bibliográfica em ambos os países, tem sido possível compreender como tal expansão em contextos nacionais marcados por profundas desigualdades raciais e sociais está conectada a processos globais, tais como: o crescimento mundial do ensino superior nas últimas décadas; a mercantilização da educação superior; processos de democratização; e as reações no interior das universidades, bem como as reivindicações por acesso que têm questionado o caráter elitista e colonial da educação universitária e da produção de conhecimento. Contudo, outras dimensões relacionadas ao cotidiano, às trajetórias das famílias e às transformações de territórios segregados tem emergido durante andamento da pesquisa. Entrevistas em profundidade com estudantes e com egressos do ensino superior tem demonstrado como a entrada na universidade é um projeto familiar que se vincula ao acesso de políticas sociais mais amplas (educação, habitação, saúde, etc). Desse modo, os efeitos vão muito além de uma questão de mobilidade social individual ou familiar (muitas vezes não garantida) reverberando na reimaginação de territórios, das narrativas sobre si e na emergência de novos sujeitos e pautas políticas. A África do Sul figura como contexto privilegiado de contraponto à experiência brasileira. Este país, além de também apresentar profundas desigualdades sociais por linhas raciais, passou por um processo recente de democratização, assim como o Brasil. Ademais, África do Sul e Brasil tem adotado políticas de inclusão ao ensino superior como forma de enfrentamento do enorme exclusivismo de suas universidades, voltadas para as elites brancas desses países. Alguns estudos tem chamado a atenção para as mobilizações, protagonizadas sobretudo por estudantes negros, que reivindicam a descolonização do ensino superior africano, como movimento Rhodes Must Fall pela retirada da estátua de colonizadores do campus da University of Cape Town e Fees Must Fall, contra as taxas que inviabilizam o ingresso de grande parcela de estudantes das townships. Por fim, em que se pese as diferenças de como raça e racismo são pensados e vividos em ambos os países, um dos argumentos principais desse trabalho é que as políticas de acesso ao ensino superior tem sido compreendidas e também vividas como políticas reparatórias, seja dos efeitos do Apartheid, no caso da África do Sul, seja como a primeira política de reparação do racismo no caso brasileiro.