Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 009: Antropologia da Economia
Articulações dos circuitos econômicos, de cuidado e comida no Complexo da Maré (RJ)
Apresento nesta proposta aspectos relacionados às dinâmicas econômicas e aos circuitos de comida e de cuidado em uma comunidade do Complexo da Maré, Rio de Janeiro (RJ). Suas considerações partem de uma pesquisa coletiva – ainda em andamento – realizada pelo Núcleo de Pesquisas em Cultura e Economia (UFRJ) e pela organização Redes da Maré, na qual se busca compreender as dinâmicas de circulação, produção e armazenamento de alimentos a partir das casas e das relações entre elas. A comida e o ato de comer se mostram entrelaçados com diferentes dimensões da vida socioeconômica dos indivíduos. Aqui, enfocaremos sobre como se relacionam com o dinheiro, a família e os circuitos e práticas de cuidado. Partiremos, então, de uma interlocutora principal. Rosa é uma mulher de 43 anos, mãe de 4 filhos e avó de dois netos. Atualmente encontra-se desempregada e suas rendas advém principalmente do dinheiro do Bolsa Família – o qual recebe um valor de R$600,00 – e de biscates que faz como faxineira – e nos informa que, em um bom mês, consegue fazer em torno de R$1.300,00. A partir de conflitos com sua filha do meio, Camila, Rosa tomou a decisão de expulsar a filha de casa, junto à sua companheira, assumindo os cuidados e responsabilidades com o neto, um bebê de seis meses. Além de cuidar do neto, moram com ela também dois outros filhos, uma neta de 11 anos e seu companheiro. Nas dinâmicas econômicas e familiares da casa de Rosa, é ela a responsável por arcar com as despesas e fazer a gestão financeira, recebendo pouca ou nenhuma ajuda dos demais membros. Quando estávamos realizando a entrevista, Camila chegou com a atual companheira e prontamente Rosa questionou a filha sobre o “dinheiro do Mucilon” da criança. Na sequência, nos contou que era ela quem tinha que “se virar” para comprar os itens e alimentos do bebê. A partir desta interlocução, o presente trabalho tem como objetivo desdobrar a relação entre alimentação, dinheiro e cuidado. Com o aumento do custo de vida e com a percepção da alta dos preços dos alimentos, novos movimentos são realizados: buscar trabalho fora de casa, e em consequência intensificando a necessidade de redes de apoio; solicitar auxílio ou empréstimos de familiares e amigos; ir na casa de familiares ou vizinhos para fazer refeições; compartilhar, doar ou emprestar insumos alimentícios e botijões de gás; e reconfigurar a relação no núcleo familiar, como a expulsão de casa da “filha que não quer nada”, a cobrança sobre as necessidades dos membros dependentes e a assunção dos cuidados e responsabilidades com o neto, que, nesta ocasião, passa a ser entendido como “filho”.