Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 025: Antropologia(s) Contemporânea(s) e Sofrimento Psíquico
Juventudes em tempos de crise: a "turma de amigos" como espaço de reconhecimento social e promoção da saúde dentro da escola
A proposta deste trabalho é discutir o processo de aprendizado emocional vivenciado por estudantes secundaristas com base nas redes de apoio que compartilham entre si e com professores(as) ou funcionários(as) da instituição escolar. O trabalho parte do princípio que a escola pode funcionar como uma mediadora de passagens culturais ao tornar possível a experimentação afetiva de outros núcleos de sociabilidade, de modo a se posicionar como um dos poucos espaços de solidariedade inter e intra geracionais disponíveis à juventude. De fato, a maior parte desse intercâmbio afetivo ocorre não naquilo que a institucionalidade educacional propõem enquanto regra ou norma de comportamento, cujo teor disciplinador apenas em pequena parcela é capaz de pautar os diversos circuitos de interações que existem dentro do seu ambiente, e sim nos grupos de amizade construídos de maneira alternativa à ordem pedagógica. Na verdade, entende-se que a própria turma de amigos(as) exerce um papel de educação sentimental ao aproximar contextos relacionais de vida que, potencialmente, compartilham de um grande conjunto de preocupações. Nesse sentido, há uma gramática do reconhecimento sendo gestada no interior dessas comunidades de afinidade, que propiciam o desenvolvimento de habilidades sociais ligadas à gestão das emoções e ao manejo do sofrimento psíquico.
Alguns estudos têm chamado atenção para a notável piora nos índices de saúde mental dos(as) jovens durante o período de fechamento das escolas, devido a pandemia de COVID-19, sobretudo nos casos de adolescentes em situação de alta vulnerabilidade social. Depreende-se disso, portanto, que os anos de afastamento significaram uma perturbação no ciclo de formação da juventude, que não só instalou um cenário de incertezas a respeito do futuro, mas suspendeu parte do processo interpessoal de passagem da infância para a idade adulta. Logo, defende-se que os grupos de pares, ainda que crivados de violências e micro-agressões, fornecem canais de envolvimento relacional que seriam improváveis de acontecer no meio familiar, o que também articula práticas de cuidado e de promoção da saúde inerentes aos vínculos de amizade.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
Associação Brasileira de Antropologia - ABA