Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 050: Entre arte e política: articulações contemporâneas em pesquisas antropológicas
A rua respira arte, nós respiramos a rua: uma interpretação antropológica das expressões de arte urbana em Belo Horizonte.
A pesquisa busca incentivar reflexões sobre o cenário de arte urbana da cidade de Belo Horizonte, com direcionamento ao Pixo e ao Graffiti, pela abordagem da Antropologia Urbana e da Antropologia Visual/Gráfica. Entendendo a cidade como uma rede de relações em constante transformação, a intenção é trazer um pouco do recorte da arte e da cultura de rua como formas de expressão, de questionamento e de liberdade, que devem ser interpretadas dentro das particularidades do contexto em que estão inseridas. O trabalho traz também o resultado de experimentações gráficas como exercício etnográfico, uma das principais óticas pelas quais optei por observar e apresentar a cidade e suas intervenções. Tive como focos principais os projetos desenvolvidos pelo CURA Art - Circuito Urbano de Arte - na região central de Belo Horizonte, assim como uma análise sobre o Pixo como manifestação cultural de arte e de resistência.
Aspecto relevante no processo da pesquisa de que trato aqui diz respeito à Antropologia Urbana e como é ter a cidade como campo, dentro de suas pluralidades e especificidades, que se mostraram bem contraditórias.
Há no trabalho uma utilização extensa de recursos gráficos, como fotografias e releituras de algumas intervenções urbanas, com a intenção de trazer um pouco da subjetividade analítica das fotos e desenhos para a pesquisa, e pela dificuldade que vejo em trazer para a escrita algumas percepções e sensações que o tema evoca. As imagens são utilizadas aqui de modo a complementar algumas ideias que as palavras não me pareceram suficientes para expressar, além de funcionarem, por si só, como linguagem comunicativa em suportes variados.
A exploração de cada dimensão da metodologia me trouxe uma perspectiva diferente sobre as temáticas, tendo como intenção compor diálogos que possam relacionar o que observei pela Antropologia Urbana, pela Antropologia Visual/Gráfica e pelas conversas e entrevistas, visto que cada experiência trouxe questões específicas que eu não necessariamente tinha elaborado previamente.
As cidades carregam em si uma série de relações, literais ou de poder, de hierarquias exploratórias, de pobrezas extremas e riquezas acumuladas, numa dinâmica capitalista que conhecemos por inevitavelmente fazermos parte dela. Entre a propriedade privada, a mercantilização do conhecimento e das artes, as cidades são os polos que abrigam toda a complexidade de redes entre pessoas, o ambiente e os demais seres vivos, assim como suas expressões. Quando digo que respiramos a cidade, é uma analogia a esse contato interminável, ao cotidiano que estamos expostos coletivamente, às pessoas, aos prédios e aos muros cobertos de pixações e pinturas, e essa é a dimensão que tentei trazer e tornar mais palpável ao elaborar este trabalho.