ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 045: Economias, políticas e territorialidades indígenas e negras: cenários de conflito, mudança social e identidade étnica
Colonialismo epistêmico na construção do pensamento social brasileiro: origens históricas e perspectivas de ruptura
Marina Esteves Andriotti (UFU)
Séculos antes do nascimento das produções sociológicas e antropológicas do Brasil (na primeira metade do século XX), o pensamento colonial já havia construído um extenso discurso ideológico sobre a cultura e a territorialidade dos povos brasileiros. A narrativa construída, documentada e catalogada que se tem sobre o Brasil nos períodos de colonialismo e imperialismo impôs uma identidade atribuída à nossa cultura através de um movimento centrípeto: de fora para dentro, de modo que o Brasil foi interpretado e descrito por via de um crivo eurocêntrico. Compreender a trajetória das produções sociológicas e antropológicas brasileiras nos últimos 100 anos perpassa por entender a construção histórica da identidade atribuída a nós a partir de modelos teóricos estrangeiros, que poluíram nosso imaginário coletivo durante séculos e jamais deram conta de decifrar a complexidade de nossa história, cultura e sociedade. Desse modo, o presente artigo objetiva investigar na História as origens do discurso eurocêntrico na construção da identidade brasileira, apoiado na análise de documentos, registros e escritos literários dos períodos de colonização e Império, para compreender a que ponto o pensamento social brasileiro aglutinou a narrativa colonialista, e em que medida as produções sociológicas e antropológicas estão caminhando para romper com a identidade eurocentricamente atribuída, rumo à construção efetiva de uma narrativa contra-colonial, que dá luz aos discursos e cosmologias afro e indígenas, como um caminho para discursar seus próprios saberes e reivindicar por identidades próprias. Em um primeiro momento, o artigo retrata historicamente a colonização como uma ordem que se deu para além da exploração de recursos naturais e de mão-de-obra não branca, portando-se também como um grande projeto de padronização de pensamentos e virtudes embasados em modelos europeus, que impunham hegemonicamente valores morais e culturais sobre os demais povos e culturas. Busca-se, portanto, demonstrar que, no eixo da episteme eurocêntrica, os intelectuais europeus que discursavam sobre as Américas atribuíram ao Brasil uma identidade inferiorizada e exotizada, secularmente documentada. Em um segundo momento, o artigo explora a trajetória da construção do pensamento social brasileiro a partir de análises de produções sociológicas e antropológicas do Brasil, germinadas desde o início do século XX. Revelando as continuidades e descontinuidades dessas produções com o discurso eurocêntrico ao longo dos anos, intenciona-se demonstrar o avanço das perspectivas de ruptura com a ordem moderna e colonial, bem como discutir sobre o giro conceitual que abriu possibilidades, no campo discursivo, para grupos sociais subalternizados serem porta-vozes de suas identidades, histórias e culturas.