ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 016: Antropologia dos Povos Tradicionais Costeiros: Práticas Sociais, Disputas Identitárias e Conflitos
Saberes locais e a percepção de pescadores artesanais marítimos frente a instalação do Porto do Açu.
A pesca configura-se como atividade milenar praticada por diferentes povos em distintos territórios. No que concerne ao território nacional, a pesca artesanal representa importante atividade econômica com forte expressão sociocultural nas regiões litorâneas. A despeito das vulnerabilidades e afastamento dos produtores diretos em relação ao seu meio de produção em virtude dos processos de desterritorialização ocasionados, com frequência, por conflitos socioambientais, os pescadores artesanais continuam reivindicando a permanência nos territórios junto a manutenção da atividade pesqueira. O modelo vigente de desenvolvimento, com frequência confundido com crescimento econômico, tem sido direcionado pelo acúmulo de capital e contínuo fluxo de mercadorias, que traduz-se na presença de infraestruturas exógenas em territórios costeiros, por exemplo, a partir da implantação de grandes empreendimentos que compõe o sistema global de produção. Nesse contexto trago ênfase aos desdobramentos da relação de dissenso quanto uso e apropriação territorial pelo Porto do Açu, maior complexo portuário e industrial privado da América Latina, o qual teve suas obras iniciadas no ano de 2007 no 5º distrito de São João da Barra (RJ) com início das operações em 2014, e os pescadores artesanais oceânicos de Atafona, 2º distrito de São João da Barra. Apresento nesta comunicação resultados iniciais da pesquisa etnográfica desenvolvida desde 2023 no âmbito do curso de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política (PPGSP) da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF). Nela busco descrever e analisar a percepção de pescadores artesanais marítimos acerca da construção e impactos ocasionados pelo Porto do Açu. Assim, considerando as alterações diretas ocasionadas pelo empreendimento na atividade da pesca oceânica, investigo como os pescadores artesanais lidam com a presença do mega empreendimento portuário no território? Quais são as estratégias assumidas pelos pescadores para lidar com as alterações na atividade pesqueira advindas desta implementação? Tendo em vista a restrição da área de pesca, como se dá a atualização dos quadros de conhecimento em relação aos antigos e novos pesqueiros?