ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 034: Casas, cozinhas, quintais e suas agências em coletivos quilombolas, sertanejos, pescadores, indígenas e camponeses
Comidas de Festejo: narrativas de mulheres da zona rural de Camocim-CE
A presente comunicação refere-se ao esforço inicial de minha pesquisa de mestrado, na qual estudarei as narrativas de mulheres camponesas das comunidades Tapuio e Olho D'água, Camocim-CE, suas experiências no fazer da alimentação tradicional daquelas localidades e a interação desse fazer pra casa com o fazer pra vender nos Festejos do Pitimbu (Granja-CE). A inquietação para essa pesquisa surgiu a partir do relato de uma interlocutora-chave, minha tia, sobre sua luta, de outros tempos, em ir vender comida na festa citada. Esse fazer foi, durante muitos anos, uma das fontes de renda daquela casa, assim como de muitas outras daquele lugar. Estava presente nessa narrativa a forma de produzir alimento e cozinhar como rito (BARBOSA, 2007) e como meio de sobrevivência, como festa e como trabalho, combinando o sagrado e o popular. Esse cozinhar ritual está presente nas comidas simples do dia a dia, assim como nas comidas da Semana Santa, nas comidas do Dia de Finados, nos banquetes servidos nos velórios, no alimentar como gesto religioso (SOUSA JUNIOR, 2014), em algumas produções comerciais, nas comidas de festejo, nas farinhadas, etc. Portanto, para melhor compreender essas narrativas, as interlocutoras serão mulheres que vivem no meio rural e que no dia a dia preparam comidas características daquela região, mas em ocasiões específicas, comercializam esses quitutes nos festejos como fonte de renda. Analisarei a partir das narrativas dessas mulheres, quais as experiências da cozinha e do comércio desses gêneros, as relações sociais que se tecem em casa e fora dela. Desse estudo virão à tona trajetórias, personagens, ingredientes, modos de fazer e transformações alimentares. Quem são essas mulheres, quais suas origens? Qual sua relação com o sagrado? Quais são as comidas? Qual o trajeto-trânsito dos seus percursos? Percebo de antemão, que há um lugar de apagamento dessas histórias. Portanto, escrever sobre essas tradições a partir das narrativas dessas agentes, que por si constroem/mantém esse modo tradicional, parece-me relevante registrar esse lugar tão cotidiano e ao mesmo tempo tão ímpar da cultura alimentar do sertão do Nordeste. Em uma primeira ida a campo, em dezembro de 2023, constatei que o cenário se modificou em relação às expectativas iniciais, as mulheres do Tapuio e Olho D’água não estão mais vendendo nos Festejos do Pitimbu. No entanto estavam lá diversas outras pessoas de outros lugares e a ocasião ainda reúne boa variedade da comida tradicional. Assim se apresentam dois caminhos possíveis: continuar o campo nas comunidades de Tapuio e Olho D’água ou eleger outras comunidades para observação dos festejos, mantendo o interesse pela preparação dos alimentos pelo trabalho feminino.