ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 020: Antropologia e Alimentação: interculturalidade, saberes críticos e desafios contemporâneos em contextos de luta por direitos
"É Natal! Vamos ter cardápio especial?" notas exploratórias de um evento em uma escola pública do Rio de Janeiro.
O trabalho é um recorte da pesquisa sobre os sentidos e significados da alimentação escolar e se ancora na observação de um evento, mais precisamente um almoço “especial com a temática do Natal, realizado em dezembro de 2023, no refeitório de uma escola pública do Rio de Janeiro. Parte-se da noção antropológica de que um evento é considerado “especial pelos próprios nativos daquela localidade e são mais vulneráveis ao acaso e ao inestimável, mas não desprovidos de estrutura e propósito (PEIRANO, 2006). Sendo o refeitório da escola um espaço relativamente heterogêneo socialmente, constituído por diferentes sujeitos, pela divisão do trabalho, pelas relações hierárquicas estabelecidas, é que se considera o cenário de estudo como um espaço apropriado para refletir questões associadas entre a comida da escola e o Direito Humano à Alimentação Adequada e Saudável (DHAAS). Para tanto, foi observada a dinâmica do evento, o cardápio do dia, o fluxo e interação entre pessoas, a ambiência (clima, decoração, sonorização), os desejos e sonhos registrados, por escrito, na “árvore dos desejos”, além de outros detalhes julgados pertinentes pela pesquisadora. Posteriormente foram realizadas as notas de cunho etnográfico em um diário de campo e analisadas também as fotografias e matéria publicada pela instituição, afim de transformar tal experiência social em experiência etnográfica. Nesse momento de aproximação do campo, observamos lacunas na escola para efetivação do DHAAS. Apesar de garantir dimensões importantes como o acesso e a disponibilidade de alimentos para a segurança alimentar e nutricional dos estudantes, evidenciou-se no extraordinário do cotidiano aspectos da desigualdade social através da comida. A comida ordinária de alguns grupos sociais passa a ser “comida de festa na escola revelando que aquela comida "especial" marca um ordenamento social. Considerando que “a comida é símbolo de pertencimento familiar, cultural, social e existencial (KRAEMER et al., 2014), a discussão sobre alimentação escolar deveria ultrapassar os limites do refeitório, abrangendo toda a comunidade escolar, especialmente os estudantes de maneira interdisciplinar, de forma que essa comida seja representação de um direito conquistado, reconhecido e usufruído na práxis de seus portadores.