Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 086: Povos indígenas e experiências de construções biográficas
Muyrã-Ubi e Iratembé na formação da Paraíba. Atualizando memórias, recriando personagens históricos
desde uma nova perspectiva.
Muyrã-Ubi e Iratembé foram duas mulheres indígenas fundamentais à formação das capitanias de Pernambuco
e da Paraíba durante o século XVI. A primeira, casada com Jerônimo de Albuquerque, cunhado do presidente da
província de Pernambuco, foi responsável por uma vasta linhagem de descendentes que ocuparam diferentes
cargos públicos e chefiaram missões de conquista nas províncias ao Norte. Conhecida como uma das mães do
povo brasileiro, juntamente com Paraguaçu, na Bahia, e Bartira, em São Paulo, sua atuação remete aos mitos
da origem indígena brasileira. O rapto de Iratembé por um mameluco deu início a uma série de conflitos que
ficou conhecido como a Tragédia de Tracunhaém, ocorrida em 1574, e da qual desencadeou o processo da
criação da província da Paraíba a partir de sua separação territorial da província de Pernambuco. Ambas,
apesar das recorrentes referências em documentos e acervos históricos, não possuíam biografias
sistematizadas tampouco imagens iconográficas que as representassem. A partir do projeto de extensão e
pesquisa intitulado Trajetórias indígenas como caminho para educação das relações étnico-raciais na Paraíba
(UFPB, 2017-2020) e do qual resultou o livro paradidático Muyrã-Ubi e Iratembé na origem da Paraíba (Ed.
ASES, 2023) pretendo nesse artigo explorar o processo de pesquisa de dados e de construção biográfica para
figuras indígenas recuadas no tempo, bem como os princípios adotados para a construção da iconografia
realizada e seus impactos no segmento infanto-juvenil a que se destina o material produzido. Em um segundo
plano, pretendo ainda refletir sobre o papel a ser desempenhado pela antropologia no ensino básico. Apesar
de não constituir uma disciplina obrigatória, sendo sua abordagem realizada de modo indireto a partir do
ensino da sociologia no ensino médio, o presente artigo pretende refletir sobre os alcances de sua
contribuição em consonância com as diretrizes estabelecidas a partir da lei 11.645/2008. E, por fim,
recuperando os debates sobre antropologia pública, pretendo discutir caminhos alternativos à atuação do
antropológica já consolidada em trabalhos técnicos (a exemplo da produção de laudos, relatórios, assessorias
entre outros), reinserindo-a na arena mais ampla da educação de jovens e adultos e o papel de combate à
desinformação potencializada nos últimos anos sobretudo a partir da disseminação de fake news acerca dos
povos indígenas e que re-atualizaram antigos e arraigados preconceitos contra esses povos.