ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 009: Antropologia da Economia
Trabalho e intimidade na perspectiva patronal: empregadoras domésticas e a hibridez das relações de trabalho doméstico remunerado
O presente trabalho se trata de um recorte de minha dissertação de mestrado (financiada pela Fapesp, processo n. 2021/03417-6), defendida em 2024, que buscou compreender perspectivas patronais no trabalho doméstico remunerado (TDR), especialmente na região de Campinas-SP. Durante a investigação, pude realizar uma série de entrevistas semiestruturadas com empregadoras domésticas com o fim de identificar como elas se posicionam e compreendem vários aspectos da relação com as trabalhadoras, com a legislação e com os sindicatos patronais. Aliando a análise das entrevistas e discursos das empregadoras com toda a incursão etnográfica realizada na pesquisa, foi possível observar que pensar as demandas das patroas na contratação de TDR implica considerarmos as relações de gênero em articulação ao acúmulo de capitais, os modelos de família, as noções e expectativas sobre trocas econômicas e domesticidade, e também às identidades de classe e de raça. Nesse sentido, o tema do profissionalismo a partir da perspectiva patronal surge como tema fundamental. Esse “proficionalicismo”, além de conservador, meritocrático, classista e servilista (Brites, 2000; Monticelli, 2017; Oliveira, 2007), também se relaciona a um forte tecnicismo ligado à ideia de produtividade e/ou otimização do TDR, onde o “como se fosse da família” parece caminhar em direção a algo mais próximo de uma “gestão de recurso humano”. Sob a veste científica das práticas inovadoras e das tecnologias eletrodomésticas, esses discursos ainda implicam desvalorização do TDR e do conhecimento nele presente, inferindo uma noção hierarquizada entre saberes. Para as empregadoras, ter uma relação “profissionalizada”, além de se conectar a ideais e expectativas de controle e poder sobre as trabalhadoras, parece também ser um instrumento de manutenção da distância social e emocional. Nesse sentido e a partir de autores como Sahlins (2003), Zelizer (2012), Monticelli (2017) e Canevaro (2020; 2018), busco tensionar o conceito de “ambiguidade” no TDR, pensando termos como "hibridez" e "ambivalência" como possibilidades analíticas para pensar as imbricadas relações entre afeto e trabalho, dinheiro e intimidade, técnica e amizade, profissionalismo e pessoalidade, público e privado. Por fim, buscarei ainda tratar sobre etnografia e as posicionalidades de raça e classe em um campo marcado pela identidade racial branca, analisando criticamente os modos como os discursos patronais em torno do TDR são construídos diante de uma pesquisadora negra.