ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 060: Experimentos de Ontologia: formas de mundialização desiguais e etnografia como atuar criativo.
Como pensar problemas sociais quando mundos incomensuráveis se encontram? Apontamentos sobre o processo de vacinação contra a Covid-19 entre os povos indígenas no Brasil
O presente trabalho acompanha histórias de pesquisadores indígenas da Plataforma de Antropologia e Respostas Indígenas a Covid-19 (PARI-C) durante o processo emergencial de vacinação contra Covid-19. Essas histórias, registradas durante entrevistas e rodas de conversas realizadas no âmbito do estudo de caso sobre vacinação dos povos indígenas no Brasil no ano de 2021, permitem entrever um dissenso histórico sobre um equívoco entre o paradigma biomédico que formatam as políticas de atenção à saúde indígena e noções indígenas de saúde. Ao descrever esse conflito, acentuado pelas políticas negacionistas e de retração de direitos do Governo do ex-Presidente Jair Bolsonaro (2019 - 2022), busco indicar como problemas sociais entre mundos incomensuráveis podem ser pensados a partir de intervenções heterogêneas e assimétricas que propiciam a construção de uma ética específica, localizada e não normativa para a promoção da saúde. Nota-se que em termos biomédicos, a vacina visa assegurar um futuro físico e biológico contra o novo coronavírus, no entanto, a forma como os pesquisadores indígenas se relacionam com, e por meio, do imunizante, dá a ver outros modos de construção de futuros que não se restringe a um corpo físico e biológico, mas envolve a relação com uma multiplicidade de seres visíveis e invisíveis que compõem o mundo ameríndio. Nesses termos, o problema social que gravita em torno do processo de vacinação contra a Covid-19 entre os povos indígenas escapa ao paradigma biomédico de saúde. O que essas histórias nos indicam são caminhos possíveis para a construção de futuros mais que biológicos, no qual o direito ao acesso à vacinação, a garantia dos direitos aos territórios indígenas e o reconhecimento dos diferentes modos de vidas dos povos indígenas são elementos indissociáveis para a promoção da saúde entre os povos indígenas. Nesses termos, argumenta-se que o problema social que gravita em torno do processo de vacinação contra a Covid-19 entre os povos indígenas envolve não apenas a proteção de um corpo físico e biológico, mas uma multiplicidade de relações pela qual emergem noções de saúde, ambientes e corpos.