Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 070: Memórias sensíveis, contramemórias e patrimônios incômodos: políticas, suportes e narrativas nas cidades
A memória de mulheres traficadas inscrita no Cemitério das Polacas
As necrópoles e cemitérios, ao contrário do que julga o senso comum, vai muito além de ser a última
morada dos indivíduos e se constituem como importantes locais de memória, tornando-se um possível ponto de
partida para o estudo de dinâmicas sociais de um passado de difícil acesso. Neste contexto se encontra o
Cemitério Israelita de Cubatão, popularmente conhecido como Cemitério das Polacas, fundado na década de
1920 pela Associação Beneficente e Religiosa Israelita de Santos (SP), cujas atividades foram encerradas na
década de 1970. Localizado na cidade de Cubatão (SP), o Cemitério das Polacas mantém presente na paisagem da
cidade, da comunidade judaica e do Estado de São Paulo a história de indivíduos cujas vidas não se encontram
no que comumente se encontra nos registros oficiais da história de uma sociedade. Esta proposta visa
apresentar a pesquisa em andamento sobre este cemitério, espaço construído para sepultar homens e mulheres
cuja história foi atravessada pela organização criminosa Zwi Migdal que operou no leste europeu traficando
mulheres judias para Brasil, Argentina e Estados Unidos. Desta forma, o Cemitério Israelita de Cubatão se
tornou um importante espaço de memória tanto para a cidade que o abriga, quanto para a história da
comunidade judaica do Estado de São Paulo e para a história da imigração brasileira no século XX. Assim,
será apresentado o estudo que busca compreender, a partir da história do Cemitério das Polacas, relações
sociais escondidas e, por vezes, apagada de grupos sociais como mulheres traficadas e que estiveram
envolvidas com prostituição, como foi o caso das polacas. Desta forma, serão apresentados pontos observados
ao longo da investigação, como o Brasil como rota da organização Zwi Migdal, a organização e mobilização da
Associação Beneficente e Religiosa Israelita de Santos e a construir do cemitério específico para mulheres
judias envolvidas com a prostituição, o processo político envolvido na construção dos primeiros cemitérios
confessionais não-católicos do Brasil, o abandono do Cemitério das Polacas como tentativa de apagamento
histórico, seu recente tombamento e a inclusão do local como espaço de memória sensível. A pesquisa foi
realizada a partir de documentos e entrevistas a fim de compreender a história, as relações indivíduos e
sociedade e a tentativa de apagamento da memória desses incômodos mortos.