ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 028: Antropologias e Deficiência: etnografias disruptivas e perspectivas analíticas contemporâneas
Capacitismo nas trajetórias educacionais de mulheres negras com deficiência: barreiras, fissuras, práticas de cuidado e sofrimento social
Valeria Aydos Rosário (UNIPAMPA), Marivete Gesser (UFSC), Pamela Block (Western University)
Este trabalho é parte de uma pesquisa mais ampla sobre as barreiras encontradas por mulheres negras com deficiência ao longo de suas trajetórias educacionais e os efeitos destas tecnologias de exclusão na saúde mental e na vida social destas mulheres. A pesquisa, ainda em andamento, conta com o mapeamento das participantes através de um formulário socio-demográfico, e 12 entrevistas em profundidade de caráter autobiográfico com participantes de diferentes regiões do Brasil. Dentre os vários resultados já alcançados, as principais barreiras atitudinais, pedagógicas e arquitetônicas encontradas reafirmam o já sabido capacitismo estrutural de nossas instituições de ensino e aponta fissuras possíveis para seu combate no cotidiano escolar e universitário. A pesquisa também mostra as principais “estratégias de apoio” encontradas por essas mulheres para seu acesso e permanência em instituições de ensino, apesar da extrema “fadiga do acesso” (Annita Konrad, 2021) por elas sofrida ao longo de suas vidas. Dentre elas, percebemos que é no acolhimento de redes de cuidado informais e na presença de “figuras pedagógicas inclusivas” centrais em suas vidas escolares que elas encontraram tecnologias sociais de sobrevivência ao capacitismo estrutural das nossas instituições escolares. Tais relatos deixam claro o caráter individual e biomédico com o qual as deficiências são entendidas, assim como a ausência de políticas educacionais que pensem ações coletivas ao invés de se basearem em ideologias neoliberais que centram a responsabilização da inclusão no indivíduo. Além disso, as situações de “violência interseccional” por elas sofridas demonstram o quanto o racismo, a misoginia e o capacitismo estão entrelaçados na deslegitimação da voz e subalternização destas mulheres - desde a busca por diagnóstico para acesso através de políticas afirmativas até o reconhecimento profissional de suas carreiras - acentuando as suas experiências de exclusão no cotidiano universitário e laboral, e levando-as ao adoecimento físico e mental. Por fim, apesar de esta pesquisa ter um caráter mais semi-estruturado, neste texto optamos privilegiar mais as narrativas de cenas e vivências cotidianas do que sistematizar os resultados mais gerais. Acreditamos que mais do que apontar quais são as barreiras encontradas ou analisar teoricamente os achados da pesquisa, é nas histórias narradas que está a força e a maior contribuição da Antropologia na produção de conhecimento na contemporaneidade.
Palavras-chave: Trajetórias educacionais, deficiência, capacitismo, fadiga de acesso, sofrimento social, saúde mental, políticas educacionais, interseccionalidade