Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 005: Antropoceno, Colonialismo e Agriculturas: resistências indígenas, quilombolas e camponesas diante das mutações climáticas
(Re)existências em tempos de catástrofes climáticas: etnografando neorruralizados
Nas últimas décadas assistimos de longe e de fora: investidas vultosas e violentas de grandes latifundiários, empresas transnacionais em terras tradicionalmente ocupadas pela agricultura familiar, pelos coletivos que vivem nas/com florestas; a liberação estatal de pacotes cada vez mais volumosos, tóxicos e agressivos de agrotóxicos para a produção de cultivares alimentares básicos; paisagens/biomas/territórios sendo arrasados, degradados, destruídos e reconstruídos para atender a lógica do mercado global. A um só tempo, emergem (re)existências em mundos rurais possíveis, tendo como norte “agroflorestar”. De 2019 para cá, tenho me dedicado a uma reflexão engajada de como “agroflorestar” compreende uma pluralidade de significados para seus/suas praticantes: um modo de (re)existir, de lutar contra o capitalismo vigente; uma técnica singular de como se fazer agricultura; e um movimento social (listo os que pretendo me ocupar na presente comunicação). Além disso, trata-se de uma engenharia sócioecológica que capacita, engaja e afeta pessoas a deixarem grandes centros urbanos rumo a estes mundos rurais. Portanto, o presente trabalho tem a intenção de visibilizar pontos de vista sobre o que significa fazer agrofloresta para sujeitos, distantes geograficamente e aproximados pelas suas éticas e aspirações sócioecológicas para se viver suas possíveis ruralidades em tempos de catástrofes climáticas. O presente campo teve início na pandemia e se estendeu presencialmente na Zona da Mata-MG, pós-pandemia, com recursos da FAPEMIG. Durante a pandemia, para me aproximar do campo, desenvolvi uma série de ações que merecem ser analisadas como um “campo”, no estrito sentido desta palavra. Participei de eventos (cuja temática era transição cidade-campo; aglofloresta) oferecidos on-line e analisei dados coletados no Youtube de pessoas urbanas que se mudaram para a zona rural e postaram seus relatos nesta plataforma digital totalizando mais de 50 horas de material. A partir destas experiências e dos dados coletados com elas até então, teço algumas interpretações sobre um dos temas que mais tem me intrigado ao analisar os dados em questão: uma assertiva poderosa e de muito efeito, proclamada por jovens (dentro de uma faixa etária de 30 a 40 anos de idade) que se autodenominam como "neorruralizados": “viver fora do sistema fazendo agrofloresta”.
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