Trabalho para SE - Simpósio Especial
SE 03: Antropologia e Saúde: epidemias, iniquidades e o trabalho antropológico
Olhando pra lá do lado de cá (e vice-versa): a pesquisa antropológica com e como "grupo de risco" no contexto pandêmico
Nesta comunicação reflito sobre os desafios, limites e possibilidades da pesquisa antropológica considerando o cenário recente da pandemia de Covid 19. Neste contexto, muitas/os pesquisadora/res da antropologia da saúde se viram forçadas/os a repensar não apenas seus campos de pesquisas, mas também refletir sobre a relação possível com seus interlocutores durante esse período e a gestão de sua própria vida, especialmente para aquelas/es entre nós consideradas/os parte dos chamados grupos de risco, tais como pesquisadoras/re com doenças crônicas ou deficiência, ou que eram os principais responsáveis pelo cuidado de pessoas afetas por tais condições, idosos e crianças. O momento de vulnerabilização trazido pela pandemia foi capaz de produzir reflexões que atravessaram nossa forma de gestão da vida e de nossas pesquisas, impostas pelo isolamento social e pelo medo posto sobre a ideia de susceptibilidade para complicações graves da Covid-19, entre nós mesmos e nossos interlocutores. Por outro lado, as ferramentas antropológicas nos deram repertório para pensar e agir diante desse cenário, permitindo uma reflexividade sobre nossos contextos individuais envolvidos em análises sociológicas sobre esse fato social total que nos atravessou. As análises antropológicas sobre a ideia de grupo de risco nos ajudaram a pensar o valor social atribuído a determinadas vidas durante e o que isso nos revela sobre como a cronicidade, a deficiência e o envelhecimento seguem sendo vistos como ponto fora da curva, e não parte intrínseca da existência humana. A reflexão partiu de minha experiência como antropóloga que há quase 20 anos faz pesquisas em ambientes hospitalares e juntos a doentes crônicos, e da minha experiência como mãe de uma criança com uma síndrome rara que ao nascer apresentou grave quadro pulmonar sendo, portanto, considerada parte do grupo de risco para complicações da Covid 19.
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