Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 005: Antropoceno, Colonialismo e Agriculturas: resistências indígenas, quilombolas e camponesas diante das mutações climáticas
Redefinindo a Relação Humano-Natureza: Perspectivas Guarani Tchiripa-Phaĩn no Antropoceno
Este trabalho apresenta resultados parciais de uma pesquisa em curso que possui como objetivo analisar a cataclismologia Guarani Tchiripa-Phaĩn e qual a práxis xamânica deste grupo étnico que impede o cunhado "fim do mundo". Um dos fundamentos da análise trata da tópica do Antropoceno à luz da proposta de uma teoria da "não escalabilidade" apresentada por Anna Tsing, que questiona a expansão ilimitada como forma de habitar a Terra e propõe observar os destroços causados pelos seres humanos, buscando maneiras de coabitar com a diversidade. O Antropoceno, fundado em uma ontologia da escalabilidade, se fortalece na destruição de ontologias, especialmente na rejeição às animistas. Como resultado, a capacidade de nos relacionarmos com outros seres humanos e não humanos, com outras cosmologias, está, pouco a pouco, desaparecendo. O presente estudo, inspirado pela tese de Philippe Descola dentre os Achuar, visa repensar as práticas de conhecimento moldadas pela ontologia da escalabilidade. Para os Achuar, a eficácia do sistema não se dá em função da quantidade da acumulação, mas da obtenção de um estado de equilíbrio definido como bem viver, onde diversos mecanismos simbólicos e a destruição de excedentes, criam uma via capaz de evitar o desenvolvimento de um cenário de acumulação, de expansão ilimitada, da degradação da natureza, ou seja, do fim do mundo. De maneira semelhante, a concepção de ecologia dentre os guaranis não se restringe somente à natureza e nem se define por seu valor produtivo ou capacidade de acúmulo de excedentes. O tekoa guarani é uma compreensão de sociedade que produz e preserva todas as relações que envolvem o grupo, sejam econômicas, sociais, políticas ou religiosas. A terra fértil e a possibilidade de caças são outros elementos que expressam a qualidade do tekoa. É o local, físico e simbólico, onde se dão as possibilidades do nhandereko - modo de ser guarani. Portanto, a proposta metodológica envolve um estudo da ontologia com foco no xamanismo desse grupo, explorando suas práticas e processos materiais e simbólicos. Nesse sentido, é apenas colaborando e aprendendo com essas populações nativas que poderemos desenvolver formas de pensamento que contribuirão para a nossa permanência no mundo. A diferença central entre as nossas ontologias e as ontologias dessas populações, dentre elas a dos Guarani Tchiripa-Phaĩn, é a noção da existência de uma cosmopolítica onde a condição de sujeito é estendida a múltiplos elementos da natureza. As ações capitalistas, as quais têm sido o fundamento da sociedade global até o momento, são destrutivas porque não somente impedem, mas negam dinâmicas de sociabilidade. Limitam suas relações ao Eu, em um universo que é regulado por socialidades e ontologias múltiplas.