ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 081: Os limiares do corpo: a circulação de substâncias corporais e a produção de pessoas e relações
Tráfico de testosterona e o o vício na performance: a produção da masculinidade a partir do consumo de hormônios sintéticos ilegais
Esse trabalho, em fase exploratória, almeja compreender os discursos e justificativas em torno do uso recreativo de testosterona entre homens que compartilham suas experiências em grupos de Whatsapp. O hormônio é adquirido de forma ilegal, através de traficantes que fazem a intermediação com laboratórios undergrounds de produção nacional, sem controle sanitário, ou de contrabando de produtos da farmacêutica paraguaia Landerlan, ou desvio da produção nacional do laboratório Aspen. Apesar de o senso comum entender que a busca do uso recreativo da testosterona sintética e de seus derivados sejam apenas pela finalidade estética, a testo é desejada por atletas amadores de diferentes modalidades com intuito de melhorar a performance, se tornar mais produtivo e também como antidepressivo. Além disso, há recorrentemente homens entre 30 a 40 anos de idade que valem-se dos grupos com a justificativa de necessitar fazer Terapia de Reposição de Testosterona (TRT). Normalmente se apresentam com um discurso que gira em torno da ideia de não ter mais a mesma disposição dos vinte anos. Queixam-se da falta de libido, desânimo, ganho de gordura abdominal, de não conseguir conciliar o trabalho, a família e o lazer esportivo. Como consequência, não conseguem render tão bem no esporte, necessitando de maior tempo de recuperação após um treino exaustivo. Atribuem o cansaço a estarem com níveis baixo de testosterona. Muitos apresentam fotos do seu exame da testosterona total, muito próximo do valor mínimo aceitável, em torno dos 200ng/dl, mas, ainda assim, dentro dos limites aceitáveis. O problema que a reposição hormonal que esses homens fazem, sem acompanhamento médico, os levam a níveis suprafisiológico, gerando aumento de massa muscular, aceleração do metabolismo, aumento da libido e também efeitos indesejados, como acnes, ginecomastia, queda de cabelo e retenção hídrica, depressão, ansiedade e irritabilidade. Nessa busca por prolongar a vitalidade da juventude e eles passam a racionalizar a ingesta dos macronutrientes, a se atentar para os marcadores de saúde, como hematócritos, prolactina, estradiol, entre outros. É comum que, ao sentirem algum efeito colateral durante o uso do hormônio suspeitarem dos marcadores de saúde, mencionando que talvez uma indisposição, ou aumento de acnes em um dia, poderia ser explicado pelo aumento do estradiol, por exemplo. Dado essa contextualização sobre os discursos e justificativas em torno do uso recreativo de testosterona, o texto vai se aprofundar na discussão sobre como os sujeitos produzem sentido e significações sobre si a partir da quantificação da subjetividade e administração bioquímica do corpo, uma vez que a apresentação de si desses homens passa ser atravessada pelos seu nível de testosterona total no corpo.