Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 091: Religiões afro-brasileiras e mobilizações afrorreligiosas: enfoques etnográficos e metodológicos contemporâneos
Recontando a história do nagô alagoano: a mobilização afro-religiosa e o processo de tombamento da
coleção perseverança.
As reflexões aqui presentes decorrem de um estudo em andamento que visa colaborar para construção de um
novo entendimento das religiões afro-brasileiras praticadas no estado de Alagoas. Visto que, nas entranhas
da memória alagoana, reside uma ferida aberta de um dos episódios mais violentos que acometeram os terreiros
e comunidades afro-religiosas do estado, período batizado popularmente como Quebra de Xangô, iniciado em
1912, que demarcou os sucessivos crimes acometidos aos terreiros que foram invadidos, violados e perseguidos
até os dias atuais. Por consequência, as práticas afro-religiosas encontradas no estado são marcadas por um
expressivo período de silenciamento e necessidade de reelaboração dos ritos. Como contrapartida, a
mobilização de sacerdotes e sacerdotisas possibilitou a criação de uma rede composta por uma coletividade de
grupos religiosos, militantes, representantes do Estado e pesquisadores empenhados em reconstruir uma
narrativa acerca das religiões e suas práticas a partir dos sujeitos que a compõem, de modo a romper com a
imagem negativa historicamente construída. Ocorre atualmente uma discussão acerca dos patrimônios culturais
oriundos do candomblé e umbanda do estado. Dentre eles, encontra-se a Coleção Perseverança, composta de
objetos religiosos roubados dos terreiros durante o episódio de 1912, que está em posse do Instituto
Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL). Tem sido tramitado a nível federal a proposta de tombamento desta
coleção através do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN/AL), o que resultou na
mobilização e participação ativa das mais variadas camadas da sociedade civil. Os dados aqui contidos são
frutos de um atencioso levantamento bibliográfico que tem sido elaborado durante a minha pesquisa de
mestrado, bem como do trabalho de campo nas audiências públicas e momentos de reuniões que viabilizaram o
processo de pedido de tombamento. Estimo estabelecer um diálogo profícuo através da participação no GT com a
finalidade de circular os dados iniciais desta pesquisa, buscando romper com as narrativas estigmatizadas e
positivistas pactuadas pela elite alagoana acerca dos xangôs do estado.
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