ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 091: Religiões afro-brasileiras e mobilizações afrorreligiosas: enfoques etnográficos e metodológicos contemporâneos
Recontando a história do nagô alagoano: a mobilização afro-religiosa e o processo de tombamento da coleção perseverança.
As reflexões aqui presentes decorrem de um estudo em andamento que visa colaborar para construção de um novo entendimento das religiões afro-brasileiras praticadas no estado de Alagoas. Visto que, nas entranhas da memória alagoana, reside uma ferida aberta de um dos episódios mais violentos que acometeram os terreiros e comunidades afro-religiosas do estado, período batizado popularmente como Quebra de Xangô, iniciado em 1912, que demarcou os sucessivos crimes acometidos aos terreiros que foram invadidos, violados e perseguidos até os dias atuais. Por consequência, as práticas afro-religiosas encontradas no estado são marcadas por um expressivo período de silenciamento e necessidade de reelaboração dos ritos. Como contrapartida, a mobilização de sacerdotes e sacerdotisas possibilitou a criação de uma rede composta por uma coletividade de grupos religiosos, militantes, representantes do Estado e pesquisadores empenhados em reconstruir uma narrativa acerca das religiões e suas práticas a partir dos sujeitos que a compõem, de modo a romper com a imagem negativa historicamente construída. Ocorre atualmente uma discussão acerca dos patrimônios culturais oriundos do candomblé e umbanda do estado. Dentre eles, encontra-se a Coleção Perseverança, composta de objetos religiosos roubados dos terreiros durante o episódio de 1912, que está em posse do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL). Tem sido tramitado a nível federal a proposta de tombamento desta coleção através do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN/AL), o que resultou na mobilização e participação ativa das mais variadas camadas da sociedade civil. Os dados aqui contidos são frutos de um atencioso levantamento bibliográfico que tem sido elaborado durante a minha pesquisa de mestrado, bem como do trabalho de campo nas audiências públicas e momentos de reuniões que viabilizaram o processo de pedido de tombamento. Estimo estabelecer um diálogo profícuo através da participação no GT com a finalidade de circular os dados iniciais desta pesquisa, buscando romper com as narrativas estigmatizadas e positivistas pactuadas pela elite alagoana acerca dos xangôs do estado.