Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 070: Memórias sensíveis, contramemórias e patrimônios incômodos: políticas, suportes e narrativas nas cidades
Narrativas de si: gênero, autodefinição e patrimônio imaterial em arquivos fotográficos de comunidades
tradicionais
O que escolhemos lembrar sobre o passado e o que desejamos esquecer? Saidiya Hartman abre seus
experimentos de fabulação crítica incitando a refletirmos sobre nossa memória coletiva. A partir de suas
palavras, essa comunicação pretende apresentar uma pesquisa de Residência Artística em desenvolvimento
acerca da construção de narrativas de si através da fotografia com mulheres negras detentoras de comunidades
tradicionais. Do acesso restrito a equipamentos fotográficos até as interações de grandes fotógrafos, no
masculino-branco, que compuseram as imagens que temos como resquícios do passado, interrogamos institutos
que dialogam diretamente com comunidades tradicionais negras (povos de terreiro e comunidades quilombolas,
majoritariamente) para pensarmos as políticas de arquivos e memórias nas instituições e convidamos algumas
das fotografadas a refletir sobre quais são as narrativas que elas gostariam de compor e já estão compondo
sobre si. Atrelamos os dois estados com maior concentração demográfica de população negra do Brasil e
tecemos a conexão Minas-Bahia para discutir políticas patrimoniais de imagem, direito de imagem, autoria e
composição fotográfica de seus detentores culturais. As instituições escolhidas foram o Instituto Estadual
de Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais - Iepha/MG, sediado em Belo Horizonte/MG; e o Zumvi
Arquivo Afrofotográfico, localizado em Salvador/BA. Ambos os lugares possuem um acervo vasto de fotografias
e uma ampla discussão sobre comunidades tradicionais negras brasileiras. O debate a ser apresentado nessa
comunicação será pautado, sobretudo, na discussão sobre memória, arquivo, patrimônio cultural e imagens de
controle por mulheres negras, centrados no olhar da teoria feminista negra pelos trabalhos de Leda Maria
Martins, Lélia Gonzalez, Selma Dealdina, Mariléa de Almeida, Ana Claudia Jaquetto Pereira, Winnie Bueno,
Patricia Hill Collins, Silma Birge, Susan Sontag e Saidiya Hartman. Através desses caminhos entrecruzados,
será possível construir e colher metodologias sobre os registros da cultura imaterial, compreendendo
diferentes abordagens e perspectivas plurais de mulheres negras de comunidades tradicionais a se
autodefinirem por meio da fotografia. Esperamos ampliar nosso diálogo sobre quais histórias queremos contar
sobre nós, considerando a relevância imagética na dinâmica social.