ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 078: O campo biográfico-narrativo e a prática etnográfica: diálogos possíveis
A diversidade das experiências de racialização de estudantes autodeclaradas/os pardas/os e a defesa de investigação por uma abordagem narrativa-biográfica
Partindo da premissa de que a identidade ou a identificação é construída por meio de um processo de reconhecimento de uma falta, de uma diferença ou digamos, do estabelecimento de uma fronteira simbólica, compreende-se que esta não é autocontida, mas relacional (Stuart Hall, 1996). A marcação de uma fronteira pode ser feita pelo sujeito ou pode ser desvelada ou imposta a ele. A presente reflexão tem como objetivo demonstrar como esse processo pode representar pontos de tensão e crises que reverberaram na auto-investigação de indivíduos sobre suas identidades e reconfigurações de sua própria vida. Com base em campo de pesquisa inserido no ambiente de uma escola pública de Ensino Médio, localizada em região administrativa periférica do Distrito Federal, Brasil, este trabalho tem como objetivo colocar em debate reflexões parciais de pesquisa etnográfica realizada entre agosto e novembro de 2023. A pesquisa visou compreender os processos de percepção de estudantes sobre autoclassificação e identificação racial, especialmente para os autodeclarados pardos, por meio de uma investigação de trajetória de vida via entrevistas. Foram entrevistados sete estudantes de 1º ano do Ensino Médio, com idades entre 15 e 17 anos, dentre os quais seis são autodeclarados/as pardos/as e um autodeclarado branco, sendo 4 do gênero feminino e 3 do masculino. O estudo demonstra que alguns estudantes entrevistados relataram incidentes ou eventos que abalaram suas percepções sobre sua identidade racial, a partir do olhar e intervenção do outro. Manifestações como sua cor é estranha, você não é negro, você não é branco, pardo não é o termo correto, é negro e apenas brancos recebem isso aqui representaram fronteiras simbólicas que moveram dúvidas ou entendimentos sobre suas identificações raciais e vivências. Para analisar e interpretar esses diálogos, baseei-me na abordagem da sociologia dos problemas íntimos (Diogo Corrêa, 2021), que considera o senso de interioridade como instância pragmática em que experiências mobilizam os atores em determinadas situações. Atividades auto investigativas são empreendidas pois são habitadas por crises ou tensões e estas se transformam ao longo do tempo e das vivências; ou seja, certas situações, nomeações podem gerar reconfigurações sobre consciências raciais e, portanto, de suas representações de si a partir de tal evento. Outro aspecto observado foi o de que o próprio estudo pode ter representado um marco para os interlocutores pensarem sobre identificações raciais. O estudo aborda situações em que as perguntas fizeram lembrar ou se atentar, de/sobre situações de discriminação racial e, em outras, compreender processos de vida no ato de narrar (Sônia Maluf, 1999).