Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 067: A Pesquisa Antropológica e os Estudos sobre violência em meio escolar: Críticas e Contribuições
Veneno: O sofrimento no sistema prisional
O trabalho a ser apresentado é parte de uma pesquisa de mestrado em curso que tem como objetivo analisar
os efeitos do aprisionamento para as pessoas que estão ou estiveram presas. Especificamente, trata-se de
investigar a categoria sofrimento no caso do sistema prisional paulista, buscando compreender sua função na
produção dos indivíduos.
Quando eu tava no sofrimento, acabou o sofrimento, ou ser companheiro/irmão de sofrimento são expressões
recorrentes para se reportar ao universo prisional, utilizadas por aqueles que lá estão ou que de lá já
saíram, bem como pelas pessoas que compõem a rede de relações afetivas familiares, companheiros e amigos de
presos. Estar no sofrimento é, em síntese, sinônimo de estar preso. Além disso, há algo do sofrimento
inerente à prisão que permanece nos sujeitos, modificando suas vidas dali em diante. Entender o que marca e
como marca são interrogações que provocaram esta pesquisa.
Embora o termo sofrimento não seja exclusivo do universo prisional, está claro que ele possui uma densidade
específica nesse campo. Propõe-se, portanto, que essa palavra banalizada, naturalizada ou enfatizada por
quem a pronuncia possa ser entendida como categoria e, como tal, esmiuçada e desdobrada, na aposta de que
permita revelar uma face pouco explorada das prisões na contemporaneidade. Investigar como se dá a produção
de sofrimento na gestão de pessoas encarceradas e os efeitos posteriores das experiências de sofrimento
vividas na prisão pelas pessoas que por lá passaram são os objetivos mais amplos dessa pesquisa de mestrado.
A proposta de apresentação oral visa expor as análises parciais do trabalho etnográfico, partindo de
entrevistas realizadas com interlocutores que tiveram passagens por unidades prisionais. A partir da
experiência comum de ter sido preso(a), a pesquisa investiga os diferentes perfis, marcas e trajetórias das
pessoas entrevistadas, visando compreender como o cárcere é um marco decisivo em suas vidas.
Neste sentido, o trabalho se alinha com a proposta do GT por discutir o sofrimento como um dos aspectos
constitutivos do encarceramento, extrapolando o espaço circunscrito das unidades prisionais e produzindo
subjetividades, relações e trajetórias. Ademais, há um vínculo íntimo entre sofrimento, criminalização e as
diversas formas de violência experimentadas no contexto prisional. Finalmente, os casos debatidos suscitam
questões a respeito de temas mais amplos tais como masculinidade, tempo, trauma, militância, racismo, dentre
outros, que também serão discutidos na apresentação em suas relações com o encarceramento.