Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 025: Antropologia(s) Contemporânea(s) e Sofrimento Psíquico
Uma tentativa de retorno à narrativa como base epistemológica do entendimento do sofrimento psíquico: uma análise do sofrimento psíquico discente na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
Esta proposta tem como objetivo geral apresentar as múltiplas dimensões das questões relacionadas à saúde mental de alunos de graduação e pós-graduação na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP), com especial atenção às transformações estruturais e institucionais do Ensino Superior. Procura-se entender como tais mudanças vêm interagindo com a experiência dos discentes: o caráter relacional entre o sofrimento psíquico e o suicídio, as condições estruturais de iniquidade e as formas complexas como raça, classe, gênero, sexualidade (dentre outros marcadores que se mostrem relevantes neste meio) se apresentam na universidade. A pesquisa está sendo feita através de um formulário on-line para mapear as temáticas e os perfis discentes diversos, entrevistas em profundidade e, por fim, etnografia na própria FFLCH e nos eventos e movimentos associados ao tema.
Defende-se que para apreender como o sofrimento psíquico tem incidido sobre as vivências universitárias é preciso descer ao ordinário, ao nível do cotidiano, para as diferentes formas que esse sofrimento é corporificado e vivenciado. Ademais, por mais que todo aluno possa estar condicionado a sofrer em decorrência das relações dentro e fora da universidade, tal sofrimento não é vivido ou reconhecido da mesma maneira.
A orientação buscada é a de um retorno à narrativa como base epistemológica do entendimento do sofrimento psíquico, especialmente na universidade. Indo contra o processo diagnóstico psiquiátrico que abstrai os sofrimentos e os sintomas de sujeitos singulares, no caso específico desta pesquisa, estudantes de graduação e pós-graduação da FFLCH. Mais do que entender seus transtornos, o objetivo é observar as características sociais dos sujeitos que, de alguma forma, sofrem ou sofreram no meio universitário, procurando entender como os sintomas que se apresentam neste meio se dão mediante os seus processos de vida e suas experiências subjetivas, isto é, olhando para o sofrimento não sob uma perspectiva estritamente ontogênica, mas, acima de tudo, sob uma perspectiva sociogênica, para o contexto social.
Defende-se o ímpeto de desbravar a relação esgorregadiça entre o coletivo e o individual. Assim, não apenas tratando das dores e sofrimentos dos discentes, mas mostrando as diferentes formas como suas vidas cotidianas enquanto o espaço do ordinário encerra em si as violências presentes em nossa sociedade e, mais especificamente, no ambiente universitário estudado. Diferentes cenas de violência são retratadas nesta pesquisa - seja como racismo, machismo, LGBTfobia, elitismo, dentre outras -, violências que nem sempre são percebidas enquanto tais pelos interlocutores, mas que podem influenciar, de forma complexa, em questões em torno do sofrimento psíquico e do suicício.