Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 027: Antropologias da Paisagem: Conhecimentos, Relações e Políticas Multiespécie
Coletando junto: Um estudo antropológico sobre as relações entre espécies a partir da coleta do Tucumã (Astrocaryum aculeatum)
Estudos de Ecologia Histórica têm mostrado que a floresta amazônica, longe de um ecossistema natural, é o resultado de ações antrópicas de longa duração (Balée, 1998). Pesquisas em ecologia e botânica têm revelado que a Amazônia é um dos maiores centros de domesticação do mundo (Clement et al, 2010), apresentando quase duas centenas de espécies com algum nível de domesticação, dentre elas a mandioca (Manihot esculenta) e o açaí (Euterpe oleracea). No campo da antropologia, os estudos atuais têm mostrado que a prática da coleta é muito mais que uma simples subtração de frutos, constituindo-se num requintado processo de manejo da floresta e processamento de produtos para fins alimentares e outros (Mendes dos Santos, 2016).
Estes produtos da floresta, conhecidos e manejados historicamente pelas populações amazônicas, juntamente com aqueles oriundos da agricultura familiar, estão presentes ao longo do ano nas feiras de Manaus. Durante minha trajetória como pesquisadora me vi de encontro com várias espécies, entre elas o tucumã (Astrocaryum aculeatum). O tucumã é o fruto da palmeira popular na região norte, existindo duas espécies do fruto mais conhecidas como o Tucumã do Amazonas ( (Astrocaryum aculeatum)) e o Tucumã do Pará (Astrocaryum vulgare, Mart.), o primeiro é comum encontrá-lo nas feiras de Manaus, principalmente por ser um dos principais por ser um dos ingredientes presentes no lanche X-Caboquinho amplamente consumido no café da manhã e lanche da tarde dos habitantes de Manaus (Shanley et al., 2005). Além do consumo pelos humanos, o tucumã também é consumido pelos não-humanos, ele é fonte de alimento de animais silvestres como macaco, arara, paca, tatu e a cutia (Dasyprocta). Dentre esses animais a protagonista é a cutia, porque ela é responsável por dispersar o tucumã, ela costuma enterrar as sementes para procurá-las depois e ao esquecer essas sementes acabam germinando (Shanley et al., 2005).
Deste modo, os humanos coletores e a cutia são espécies que se cruzam caminhos por suas vivências, principalmente quando se trata do tucumã, por esse motivo o trabalho pretende entender os modos de se relacionar entre esses seres. Pensando com Ingold (2000) sobre a questão da história dos caçadores-coletores que não está escrita nas páginas e ancorando o trabalho no conceito de socialidade de Tsing (2019) que não faz distinção entre humanos e não-humanos pois inclui ambos, este trabalho busca estreitar o foco do estudo e abordar a partir de uma etnografia da coleta do tucumã as relações entre humanos e não humanos observando os modos de construção do conhecimento e formas de se relacionar com essa espécie em que a maioria das vezes não aparecem nos estudos, levando em consideração as histórias e trajetórias desses sujeitos com o tucumã.