Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 028: Antropologias e Deficiência: etnografias disruptivas e perspectivas analíticas contemporâneas
Exercício de [des]articulações entre deficiências e corporalidades gordas
Fernanda Jorge Maciel (Escola de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais), Maria Luisa Jimenez Jimenez (PUC MINAS), Will Paranhos (UERJ)
Nos encontramos para pensar sobre a falta de legitimação das corporalidades gordas no Brasil para o direito à acessibilidade. Foi um exercício que emergiu de incômodos pessoais, os quais tínhamos urgência em discutir. “Talvez o corpo gordo seja como quando a Fernanda está sentada” foi uma sentença que ganhou vida a partir das difrações de Malu Jimenez em nosso encontro. Gorda maior, ao se sentir, de algum modo, numa condição semelhante à de Fernanda, uma mulher com deficiência física e que usa duas muletas canadenses para andar, Malu criou tal analogia. Fernanda - assim como Will - quando sentada, vista por uma câmera ou mesmo pessoalmente, não aparenta ter nenhuma deficiência, cumprindo, ainda que não intencionalmente, com os pressupostos da normalidade física. Ao levantar e andar, Fernanda passa a ter seus direitos de acessibilidade compreendidos e garantidos, ainda que não na totalidade. Apesar de estarem no estatuto da pessoa com deficiência como tendo mobilidade reduzida, e apesar de serem consideradas “incapazes” pela sociedade capitalista neoliberal, pessoas gordas têm estes direitos negados. Começamos a problematizar as possíveis disputas de fronteira com o campo da deficiência, sobretudo acerca das imagens sociais que se constituem em torno de corpos gordos, com deficiência e com mobilidade reduzida. Questionamentos emergiram: as pessoas percebem que um corpo gordo enfrenta barreiras de acessibilidade em nossa sociedade normativa, acarretando sua exclusão? As pessoas gordas sabem que estão contempladas no estatuto da pessoa com deficiência? Pessoas gordas acessam políticas públicas de acessibilidade? Pessoas consideradas doentes “obesas” estão em um não lugar como experiência no mundo? A gordofobia nega acessibilidade às pessoas gordas maiores? O que faz uma pessoa ser considerada, aos olhos da sociedade, uma pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida? Foi a partir deste cenário que surgiu a ideia de propormos este trabalho, o qual preocupa-se muito menos em dar respostas e muito mais em tornar-se um exercício difrativo que parte das aproximações e distanciamentos entre o que significa ser uma pessoa com deficiência, com mobilidade reduzida e gorda maior. Nas interseções dos marcadores sociais da diferença - lidos numa perspectiva categorial, importante quando das políticas de reconhecimento - partimos das abordagens analíticas e teóricas dos Estudos críticos da Deficiência, da Teoria Crip, dos estudos feministas de[contra]coloniais e das teorizações cuir, na tentativa - e sempre tentativa - de (des)articular deficiência e saúde, evidenciando as desigualdades estruturais e os desafios enfrentados pelas pessoas gordas maiores, que não conseguem acessar políticas públicas de acessibilidade, mesmo quando há legitimidade jurídica.