Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 001: A produção de conhecimentos em situações de conflito
A caminhada dos Pataxó de Gerú Tucunã e a construção do fab'bwá upù pinapõ'txe
Os Pataxó de Gerú Tucunã retomaram uma área no Parque Estadual do Rio Corrente, Açucena (MG), em julho de 2010. Inicialmente, levantaram uma grande tenda de lona próxima a uma lagoa sazonal, onde as famílias se abrigaram por seis meses. Com o tempo, conseguiram construir seus kijemes (casas) de pau a pique e plantar seus roçados nas proximidades do ribeirão São Félix. O São Félix e o rio Corrente são os dois cursos de água que atravessam Gerú Tucunã e desaguam no rio Doce. O Parque Estadual do Rio Corrente foi decretado em 1998, mas, quando os txihi (autodenominação dos Pataxó) lá chegaram, parte dos trechos de Mata Atlântica já haviam sido reduzidos à pasto. Latifundiários e posseiros da região se aproveitaram da não regularização fundiária do Parque, estabelecido apenas no papel, para extrair madeira e soltar seus rebanhos de bois nelores e búfalos. Com a mudança dos Pataxó, eles atacaram por diversas vezes a aldeia, incendiaram as matas, atiraram contra os indígenas e contaminaram de forma proposital as fontes de água do território, adoecendo as crianças. Mesmo assim, os txihi mantiveram a duras penas sua luta, reflorestaram áreas do Parque, construíram a kijetxawê (escola), o polo de saúde e uma Cabana Grande no centro da comunidade. Em novembro de 2015, ocorreu o rompimento da barragem do Fundão em Mariana (MG), os rejeitos de minério desceram pela bacia do rio Doce e dizimaram os pescados no ribeirão São Félix e no rio Corrente. A quantidade de piaus (Leporinus obtusidens), até então principal fonte de proteína dos habitantes de Tucunã, foi reduzida drasticamente. Em 2018, enquanto medida reparatória do rompimento, houve a construção de uma adutora de captação no rio Corrente, este empreendimento deve diminuir a vazão de água e secar as nascentes da aldeia nos próximos anos. Nessa comunicação, em específico, pretende-se mostrar como esses acontecimentos na caminhada dos txihi se desdobram na construção de um fab'bwá upù pinapõ'txe (documento de consulta) para garantir a proteção da comunidade. Nas conversas e reuniões das lideranças, os Pataxó demandaram a escrita do fab'bwá e foram, pouco a pouco, percebendo as conquistas ao longo de quase quatorze anos de retomada, como por exemplo, o decreto do estado de Minas Gerais, em 2018, que reconheceu a dupla afetação do Parque, isto é, enquanto unidade de conservação e território indígena. Ao mesmo tempo, os txihi puderam deixar registrado as suas preocupações em relação aos empreendimentos circundantes, sobretudo com a inauguração da adutora em 2023, posicionando-se como duplamente atingidos pelo crime ambiental de Mariana, tanto por conta do rompimento, quanto pelo seu processo de reparação. Assim, denota-se a ação política dos Pataxó em transformar a escrita em arma de defesa do território.