Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 045: Economias, políticas e territorialidades indígenas e negras: cenários de conflito, mudança social e identidade étnica
Narrativa militar versus territorialidade yanomami: disputas em torno do processo de demarcação da Terra Indígena Yanomami
Neste trabalho pretendo pensar o processo de demarcação da Terra Indígena Yanomami a partir das disputas entre a narrativa militar sobre a soberania nacional na zona de fronteira amazônica, de um lado, e, de outro, a defesa dos movimentos pró-yanomami pela demarcação de um território amplo e contínuo para esse povo. O discurso dos militares contrário à demarcação era fundamentado sobretudo no receio de que os Yanomami poderiam transformar-se em uma nação independente cujo território seria controlado por potências estrangeiras, comprometendo a integridade e a soberania territorial do Brasil. Do outro lado, o argumento dos movimentos pró-yanomami evidenciava a indissociabilidade do modo de vida yanomami com a necessidade de um território amplo e contínuo para a sua sobrevivência e manutenção das dinâmicas socioespaciais e cosmológicas.
Essas disputas tiveram início a partir dos anos 1970, quando intensificou o contato dos Yanomami com os não indígenas. Nesse período, a importância da Amazônia no pensamento geopolítico brasileiro cresceu substancialmente. A ideia de que a região era internacionalmente cobiçada e que deveria, portanto, ser defendida e ocupada por brasileiros, disseminou-se em alguns setores militares, sobretudo na ala golpista. A implementação de grandes projetos de desenvolvimento econômico como a construção de estradas de longa distância e de infraestrutura foi a solução do governo para criar condições efetivas para essa ocupação. Esses projetos tiveram consequências devastadoras para os povos indígenas amazônicos. No caso dos Yanomami do Brasil, a área ocupada por eles tornou-se um polo de atração para garimpeiros e mineradoras. Como resposta, os movimentos pró-yanomami lançaram uma campanha nacional e internacional pela expulsão dos milhares de garimpeiros das áreas yanomami e pela demarcação de um território amplo e contínuo.
O processo de demarcação da Terra Indígena Yanomami (homologada por Fernando Collor em 1992) durou um pouco mais de vinte anos, durante os quais os diferentes interesses de alas militares e movimentos pró-yanomami e indígenas resultaram em disputas no campo midiático e político no Brasil e no exterior. Neste trabalho, pretendo refletir sobre essas disputas a partir de documentos redigidos na época, do modo como a política indigenista estatal foi estruturada, do modo como os yanomami concebem a territorialidade e, por fim, a partir dos livros que influenciaram o pensamento geopolítico dos militares sobre a Amazônia.
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