Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 026: Antropologia, memória e eventos críticos
Pessoas memoriais: reencontrando origens familiares e refazendo memórias sobre a ditadura militar argentina
Este trabalho examina práticas de pessoas que souberam, na idade adulta, serem filhas de militantes desaparecidos e de terem sido sequestradas por motivos políticos durante a Ditadura argentina (1976-1983) quando eram bebês. Essas pessoas foram criadas por militares, por aliados da Ditadura ou por casais que não estavam envolvidos com a repressão política; seus nomes, sobrenomes, filiação, datas e locais de nascimento foram adulterados nas certidões de nascimento, prática que ficou conhecida como "plan sistemático de apropiación de menores". Se para eliminar a oposição política, a Ditadura obliterou identidades pessoais, anulou vínculos de parentesco e silenciou discursos contrários, a resistência surge como seu espelho: são o sangue, o nome e os relatos os principais meios para trazer à tona o passado ocultado à vida presente. Ao conhecerem as suas origens familiares por meio do trabalho da associação civil Abuelas de Plaza de Mayo, os chamados nietos e nietas restituidos se perceberam como parte de um mundo devastado pela repressão estatal da década de 1970. Este trabalho coloca suas histórias de vida em focoi e em relação, para entender modos como o conhecimento da origem familiar é acionado e participa das artes de (re)constituir identidades pessoais, (re)criar parentesco e (re)alimentar memórias. Como pessoas que elaboram e difundem histórias pessoais, familiares e do país, nietos e nietas mobilizam uma pluralidade de ideias sobre a ditadura militar. Além disso, e tão somente porque sofreram a apropiación de menores, situam em si e convidam (até requerem) a produção de memórias e ideias, constituindo-se, assim – tal como sustento – como “pessoas memoriais”.
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