Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 094: Saberes Localizados, escritas de si e entre os seus: desafios político-teóricos e metodológicos nas práticas etnográficas
Meu Corpo é Político, Coletivo E Re(ex)sistência
O objetivo desta produção intelectual repousa em analisar, a partir da minha trajetória universitária,
as nuances da incidência do racismo estrutural e como suas tecnologias opressivas configuram este espaço de
poder. Justifica-se por ser um ato político que quebra o meu silenciamento; poder falar sobre a minha
história - que se parece com tantas outras - é contribuir ativamente para o desmonte do sistema que
cristaliza minha opressão. A metodologia utilizada foi de caráter autoetnográfico, que consiste em uma
abordagem etnográfica e analítica, em um tipo de fazer específico por sua forma de proceder, ou seja,
refere-se à maneira de construir um relato sobre um grupo de pertença, a partir de si mesmo. Dessa forma,
este trabalho pretende dar luzes ao silenciamento das camadas profundas da minha própria experiência,
tecendo uma narrativa que transcende o pessoal para abraçar o cultural e o social. Ao adotar essa abordagem,
espero proporcionar uma compreensão contextualizada das interseções que fazem meu corpo ser marginalizado em
todos os âmbitos da sociedade em virtude do racismo estrutural, assim como todos os corpos não brancos.
Antecipo uma jornada reflexiva, na qual cada lembrança se torna uma peça no quebra-cabeça mais amplo da
minha identidade, desafiando-me a explorar não apenas o "eu", mas também a teia de influências que moldam
minha história. Utilizei também uma base de dados secundários referentes ao funcionamento da Universidade,
junto a um referencial bibliográfico de pesquisadores clássicos e decoloniais, como Silvio Almeida, Bell
Hooks, Conceição Evaristo, Pierre Bourdieu, Frantz Fanon, Neusa Santos Sousa, Paulo Freire, Grada Kilomba e
outros, como categoria de análise. Por conseguinte, foi posto em evidência a dicotomia acadêmica e
educacional que apresenta um potencial transformador e opressor para pessoas negras, visto que ao mesmo
passo que ela emancipa estes corpos da alienação colonial, ela consegue amarrá-los ao fazer a manutenção do
sistema Racista. Dessa forma, pode-se concluir que, embora ela apresente em sua totalidade epistêmica e na
sua configuração institucional o caldo do discurso colonial, ela ainda é um dos maiores vetores para a
negritude - como também outros grupos marginalizados - alcançar a tão sonhada ascensão social, e que
permanecer e concluir o percurso é, sem dúvidas, re(ex)sistência.