ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 052: Estudos de Cultura Material: contribuições da Antropologia e da Arqueologia em um mundo mais-que-humano
Reflexões sobre o futuro desconhecido, o presente destruído e o passado negado da Palestina
Este trabalho busca refletir criticamente a respeito dos registros postados em tempo real do primeiro genocídio televisionado no mundo - o conflito entre Israel e Palestina iniciado em 7 de Outubro de 2023, desdobramento de um complexo conflito étnico (mascarado de conflito religioso) que se arrasta desde a I Guerra Mundial. Partindo de um resgate histórico, para justificar sua existência enquanto nação, Israel lançou mão de diversas estratégias em diferentes campos, dentre eles a Arqueologia. Afinal, a disputa pela memória de um território passa pela fluidez temporal passado-presente-futuro, uma vez que a maneira como formulamos ou representamos o passado molda nossa compreensão e nossas concepções do presente (Said, 2011, p. 27). Nesse sentido, à medida que o Estado de Israel mina a identidade palestina dificultando expressões culturais e se apropriando de outras tantas, a resistência palestina segue incansavelmente encontrando saídas para a manutenção de sua memória e existência. Em um vídeo publicado na rede social Instagram, dia 29 de Novembro de 2023, a jovem repórter palestina Bisan Owda denuncia que um prédio que guardava documentos da cidade de Gaza datados até 100 anos atrás foi destruído por um bombardeio israelense e conclui dizendo: the future is unknown, the present is destroyed and the past is no longer our past”. Motaz Azaiza, importante repórter e fotógrafo palestino de apenas 24 anos, compartilhou em sua conta no Instagram uma refeição chamada Makluba, preparada por sua mãe, no dia 28 de Novembro de 2023 - durante a pausa de 7 dias do conflito. No vídeo é possível ver como a comida é parte afetiva da memória palestina e como a experiência, ao ser compartilhada, ganha significados múltiplos - principalmente um respiro de alento em meio ao caos. Dessa forma, o presente trabalho evidencia como a situação dos palestinos, cuja vida em crise é a vida normal (Bordonaro et. al, 2009), vêm se tornando cada dia mais insustentável à medida que Israel avança com seu projeto de limpeza étnica (Pappé, 2016); ao mesmo tempo em que celebra a força e a resistência deste povo. Referências: Bordonaro, L., Brazzabeni, M., Silva, M.C., Manuel Cavaleiro, J., Durand,J-Y., Leal, J. … Almeida, M.V. (2009, nov). A crise é a vida normal: a antropologia face à crise. Próximo Futuro/Next Future. Disponível em https://www.academia.edu/623857/A_Crise_é_a_Vida_Normal._A_Antropologia_Face_à_Crise Ilan Pappé. A limpeza étnica da Palestina. São Paulo, Editora Sundermann, 2016. SAID, Edward W. Cultura e imperialismo. Editora Companhia das Letras, 2011.