Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 048: Ensinar e aprender Antropologia
O ensino da prática de pesquisa de campo na graduação: panoramas e desafios na formação contemporânea de antropólogas/os
O campo da Antropologia é permeado por controvérsias sobre quais seriam seus objetivos, sua vocação ou se a disciplina teria por excelência um objeto de estudo. Mas a despeito de tal disputa teórica, há um certo consenso, por outro lado, que uma de suas maiores contribuições para o campo científico foi justamente o de firmar a observação participante como uma técnica de pesquisa imprescindível para o estudo das relações sociais e ferramenta metodológica fundamental à etnografia. Mas embora a produção etnográfica tenha se firmado como um elemento central na consolidação da Antropologia como disciplina, a atenção da comunidade antropológica com o ensino de sua prática de pesquisa não tem atingido proporcional centralidade em seus debates contemporâneos.
Como se ensina ser etnógrafa/o? Como a observação participante, técnica de pesquisa essencialmente antropológica, pode ser ensinada? E, após a década de 1980 e o cenário de crítica e reavaliação disciplinar acerca das relações de poder que fundamentaram o trabalho de campo clássico, como têm sido formadas as gerações atuais de etnógrafas/os no país? Estas são as questões de onde partem essa pesquisa que tem investigado o ensino de Antropologia no Brasil, em especial, o ensino dos métodos e técnicas de trabalho de campo antropológico que embasam o saber-fazer etnográfico dentro dos cursos de graduação em Ciências Sociais e Antropologia nas universidades públicas do país. Para tanto, a investigação tem sido realizada em duas frentes de trabalho: 1) um mapeamento sobre como e quando aparece o debate sobre o ensino das metodologias de pesquisa e do trabalho de campo nas sistematizações históricas sobre a institucionalização da Antropologia brasileira publicadas pela Associação Brasileira de Antropologia; 2) e um mapeamento dos cursos de graduação em Ciências Sociais e Antropologia em instituições públicas, analisando suas matrizes curriculares e o modo como as disciplinas metodológicas têm sido executadas atualmente no processo de formação inicial de etnógrafas/os.
Como resultados preliminares, destacamos a dificuldade em encontrar, nas publicações da ABA, trabalhos que sistematizassem as dimensões didáticas sobre o ensino da pesquisa etnográfica e que estivessem articulados às questões e necessidades das licenciaturas e bacharelados. Além disso, ao procurar entender como ensina-se a fazer pesquisa de campo no Brasil, o que encontramos foi um debate em que se sobressalta uma desassociação institucional entre pós-graduação e graduação, e uma baixa disputa do lugar do trabalho de campo na graduação, especialmente dos cursos de Ciências Sociais. Um cenário em que o espaço do treinamento técnico de campo na formação profissional é ora pretendido mais como elemento da formação especializada do que inicial.
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